Governo do Povo ou Governo para o Povo?


Estamos plenamente convencidos de que é melhor para o povo ser bem governado, de acordo com as suas necessidades e com os seus interesses – do que fingir que exerce uma soberania para a qual não está preparado e que por isso delega em quaisquer demagogos habilidosos. Quer dizer (e sirvamo-nos aqui da recente declaração dum grande republicano, Jean de Castellane, presidente do Conselho Municipal de Paris: – «A experiência demonstrou que a verdadeira democracia consiste menos em governar o povo, o que é impossível, do que em governar para o povo, por meio de elites, que juntem à sua autoridade uma capacidade técnica suficiente».
Isto não tem fácil contestação: o aparente governo do povo (só aparente, porque é, de facto, governo dos partidos que exploram o povo) deve ser substituído pelo governo da Nação organizada, em que o povo, arrumado nos seus núcleos naturais, profissionais e regionais, influi realmente no governo, através dos seus verdadeiros órgãos representativos.
O paradoxo é este: as doutrinas chamadas democráticas, apregoadas como representando a felicidade do povo, só representam o ludíbrio do povo; e as doutrinas opostas é que realizam, afinal (se assim lhe quisermos chamar aceitando a palavra antipática), uma verdadeira estrutura democrática da sociedade nacional.
Sacuda-se, pois, de vez, a decrépita e falida mitologia do último século!

João Ameal in «Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses».

4 comentários:

Anónimo disse...

Não deixa de ser impressionante a amplitude que este dito de João Ameal ainda preserva passados todos estes anos. Vivemos os mesmos problemas de há 100 anos atrás, um novo ditador surgirá. É inevitável. Saúde.

VERITATIS disse...

As verdades são eternas e João Ameal sabia bem o que dizia quando escreveu isto em 1932 – não tivesse ele conhecido a I República!
Ditadores há muitos, mas poucos se assemelham a Salazar. Esperemos o que próximo seja parecido com ele.

Saúde!

Anónimo disse...

Palavras premonitórias, estas. Todos sabem que é exactamente assim que se deve governar, até as gentes políticas que matreira e hipòcritamente pugnam pela democracia embora saibam de antemão que tudo o que os povos, todos os povos, imperiosamente desejam é estabilidade política e económica e paz social, exactamente o oposto que os 'democratas' têm para lhes oferecer.

De facto só em regimes desta natureza os políticos que tiveram a lata e a lábia de neles se imporem como governantes, obtêm terreno livre para decretar leis e assinar tratados que prejudicam gravemente os povos, aproveitando a bagunça infernal por eles próprios gerada para encher lautamente os bolsos e desbaratar a riqueza acumulada nos países (isto enquanto podem, pois nunca sabem como nem quando os povos se irão revoltar decidindo correr com eles) e em simultâneo criar a instabilidade económica, social e política em que são mestres, para poderem manobrar à vontade, em lugar de abraçarem a nobre missão de governar os povos com integridade e patriotismo para elevar o seu progresso e bem estar.

O cinismo deles é de tal ordem que socorrendo-se de manhas inomináveis e falcatruas mil, conseguem convencer os mais incrédulos de que eles e só eles sabem o que é bom para os povos e o melhor para os seus países.

Esta gente além de mentirosa é criminosa, porque país onde aterrem levam a violência, a fome, a infelicidade e a pobreza aos povos que ingènuamente lhes concedem a primazia de por eles serem governados. Povos esses anteriormente felizes, genuìnamente alegres e vivendo política e socialmente em paz.

Se por hipótese razoável todos aqueles que nos vários países do mundo, travestidos de democratas e governando à revelia dos respectivos povos, fossem de um dia para o outro compulsivamente afastados do poder para sempre, tão extraordinário milagre traduzir-se-ia numa incomensurável benção dos Céus que abarcaria toda a Humanidade, após o que todos esses povos deveriam genuflectir e agradecê-la diàriamente a Deus durante o tempo que lhes fosse concedida a vida na Terra.
Maria

VERITATIS disse...

Sábias palavras, Maria. Obrigado.