O progresso traz felicidade?


Que tem feito a sociedade há três séculos a favor da parte moral do homem? Nada, querer iluminar o homem, tirar-lhe ilusões. E tiradas essas ilusões, que sucedeu? O homem materializou-se, e a sociedade corrompeu-se. Vejamos que progressos materiais obtivemos nesses três séculos: obtivemos as aplicações do vapor, a química fez passos de gigante, as ciências naturais chegaram quase à perfeição, os resultados científicos e artísticos simplificaram-se, inventou-se o galvanismo, o telégrafo eléctrico, a fotografia, desapareceram as distâncias, o comércio reina dominador sobre todos, somos engolfados em prosperidade material, e ao mesmo tempo somos muito infelizes.

D. Pedro V in «Escritos de El-Rei D. Pedro V».

2 comentários:

Anónimo disse...

Estas sábias palavras proferidas por D. Pedro V podiam ser perfeitamente adaptadas aos dias de hoje, apenas acrescentando ao discurso mais dois séculos (sensìvelmente) e mencionando as múltiplas inovações tecnológicas entretanto desenvolvidas que, tal como o Rei frisou e, imagine-se!, já no seu tempo, não têm apesar de tudo trazido mais felicidade aos povos do presente, ainda que o consumo desenfreado e o demasiado facilitismo nos prazeres da vida levados ao excesso (sobretudo por uma juventude desorientada e mal acompanhada) possam aparentemente demonstrar o contrário. Puro engano. Quando o progresso atinge o seu pico máximo de saturação com todos os exageros que lhe estão associados, faz sofrer os povos porque se desumaniza. Algures num futuro próximo terá de haver um ponto de retorno nesta caminhada sem sentido, que as sociedades modernas empreenderam há várias décadas e que parece não conseguirem deter, sem o qual as sociedades tal como as conhecemos perderão o seu (cada vez mais frágil) são equilíbrio e desmoronar-se-ão.
Maria

VERITATIS disse...

Não deixa de ser curioso que D. Pedro V, um dos grandes pioneiros da modernização e do progresso, cedo se tenha apercebido das contradições dessa nova Era que se iniciava. Só é pena ter morrido tão jovem. O seu reinado podia ter sido bem diferente daquele que conhecemos hoje.