Monarquia democrática, para quê?


Entre monarquia constitucional parlamentar e república parlamentar constitucional não distingo diferença, nem considero que ela sequer exista, a não ser historicamente, entre o princípio da eleição e o da hereditariedade, tendo eu por tão precários os acasos do voto como os do nascimento.
O que me repugna num e noutro dos dois regimes é a embusteira tirania do sufrágio em que ambos se baseiam, e a consequente interferência da néscia razão da urna na solução de problemas tão melindrosamente científicos como o da governação dos homens.
O votismo e o parlamentarismo são, em Portugal pelo menos, os agentes mais perniciosamente destrutivos de toda a competência administrativa. Desde 1836 até hoje, toda a história do liberalismo português subsequente à ditadura filosófica de Mouzinho da Silveira, o último dos nossos estadistas que teve ideias próprias e soube governar manejando-as, é a flagrante demonstração da nossa incapacidade governativa dentro de um regime absorventemente parlamentar.

Ramalho Ortigão in «Últimas Farpas», Janeiro de 1911.

2 comentários:

Absolutista disse...

Se é para os monárquicos serem democratas, que sejam democratas por inteiro, e que se eleja também o chefe de estado.

VERITATIS disse...

Não podia estar mais de acordo. De uma perspectiva puramente democrática, é inaceitável que o Chefe de Estado não seja eleito. Por isso, só peço que eles sejam coerentes e escolham: ou monarquia, ou democracia.