O embrutecimento artístico


Quando começamos a substituir os Salmos de David pelos conselhos de auto-ajuda, e os trágicos gregos e Dante, por biografias de celebridades, já não conseguimos exigir muita coisa da inteligência. E com o consequente embotamento da sensibilidade, os nossos olhos e os nossos ouvidos perdem a antiga capacidade de captar imagens e sons que dantes faziam parte do registo poderoso de uma cultura da qual ficámos, em poucas décadas, completamente órfãos.

Ângelo Monteiro in «Arte ou Desastre», 2011.

90 anos: 28 de Maio de 1926


Reduzir, tal como já vimos, o movimento que instaurou a ditadura a uma "conspiração de caserna" para que a classe militar pudesse usufruir do poder, significa ignorar as razões profundas do desassossego geral, as tendências do nosso tempo, todas as fraquezas, as abdicações, as insuficiências do poder público, que estão na base daquilo que se podia chamar a crise do Estado moderno. [30 de Julho de 1930]

A garantia suprema da estabilidade da obra realizada está precisamente na reforma moral, intelectual e política, sem a qual as melhorias materiais, o equilíbrio financeiro e a ordem administrativa, ou não se podem realizar, ou não podem durar. [27 de Abril de 1935]

António de Oliveira Salazar in «Discursos e Notas Políticas».

Festa de Corpo de Deus


A minha carne é verdadeiramente alimento e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em Mim e Eu nele. (João 6: 56-57)

Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálix, anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha. Por isso todo aquele que comer deste pão e beber do cálix do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. (I Coríntios 11: 26-27)

Doutrina católica sobre o ensino público


Que lugar deixa a doutrina da Igreja ao Estado, no ensino e na educação? A resposta é simples: tirando certas escolas preparatórias aos serviços públicos, como por exemplo as escolas militares, o Estado não é educador nem docente. A sua função, de acordo com o princípio de subsidiariedade aplicado por Pio XI na citação acima [encíclica Divini Illius Magistri], é promover a fundação de escolas particulares pelos pais e pela Igreja, e não substituí-los. A escola pública, o princípio de um "grande projecto nacional educativo", inclusive se não é laico e se o Estado não reivindica o monopólio da educação, é um princípio contrário à doutrina da Igreja.

Mons. Marcel Lefebvre in «Do Liberalismo à Apostasia: A Tragédia Conciliar».

Salazar e a Monarquia

Imagem adaptada de N.E.O.S.

Reparem, Senhores: o pensamento político de Salazar que se denuncia nas Festas centenárias que idealizou e promoveu, que raízes tem? De que sangue se alimenta? Em que doutrinas se funda? Numa palavra, – de onde emana, o Pensamento político de Salazar?
É, porventura, da ideologia que inspirou as disposições da Constituição de 1911? É por acaso do Verbo dos agitadores da plebe da geração de 90, e das gerações suas discípulas?
É, porventura, dos princípios fixados pela Tábua dos Direitos do Homem, ou das doutrinas execráveis da Enciclopédia do século XVIII? Quem foram os mestres desse Pensamento? Rousseau e Voltaire, Lamartine e Victor Hugo? Mouzinho e Oliveira Martins? Guilherme Braga e Junqueiro? Todos nós sabemos que esses doutrinadores são antitéticos da orientação de Salazar.
Leiam-se os discursos políticos deste; interpretem-se as suas posições, não sob o ângulo da hora em que são ditas, mas à luz da crítica filosófica, e, sem dificuldades, se verá que os seus Mestres foram Maurras e Le Play, Jean Guiraud e Menendez y Pelayo, Leão XIII e Pio X, os Mestres da contra-revolução portuguesa, e Alberto Sampaio. E se, algum dia, os seus olhos se poisaram em rimas ou estrofes, para receber os eflúvios espirituais que contêm foi – nas de Camões ou Bernardes, Sá de Miranda ou Correia de Oliveira, António Nobre ou Eugénio de Castro, Guilherme de Faria ou Mário Beirão, – poetas cristãos e genuinamente portugueses e não em certos pretensos modernistas, deformadores ou falsificadores da Beleza pura e da Poesia em si.
Ora tudo isto traduz, não Revolução francesa – alma mater do Liberalismo comunizante, mas Realeza tradicional de Portugal.
Veja-se a orgânica política do Estado Novo – obra de Salazar: a Assembleia política, reduzida ao mínimo, no tempo, e nas funções; quase só consultiva e esclarecedora, é a versão actual das nossas Côrtes tradicionais; a Câmara corporativa é o reconhecimento legal dos grandes elementos tradicionais da Nação – desde a Família à Província, desde as Corporações aos ofícios; o predomínio da Autoridade, benéfico para todos, sobre a Liberdade, prejudicial para todos; o predomínio do Bem comum sobre o Bem individual; o conceito da Família primando sobre o conceito do Indivíduo; o Social preferido ao Individual; o Bem de cada um consequência do Bem de todos, em vez do Bem de todos consequência do Bem de cada um – tudo isto que é se não de origem tradicional, obra da Realeza secular da nossa terra?
E se isto não bastasse, tínhamos no princípio da reeleição presidencial sem limites, garantindo na Constituição em vigor, o reconhecimento da grande virtude da Realeza, – como adopção da minha velha lei: «a República é tanto mais perfeita quanto mais se aproximar da Monarquia, sem nunca a atingir».
Qual tem sido o grande fundamento da obra de Salazar?
A continuidade no Poder.
Há perto de trinta anos que eu formulei, diante do público, as condições essenciais de um governo fecundo: estabilidade, continuidade e homogeneidade – características específicas da Realeza hereditária.
Têm essas características sido o instrumento feliz da política de Salazar. Estabilidade: – há mais de dez anos que governa o País; Continuidade: – promete e realiza, porque a Estabilidade lho permite; Homogeneidade: – com todas as suas falhas e desvios, os elencos ministeriais têm-se, mais ou menos, adaptado ao pensamento director do Presidente do Conselho.
A sua política, quer nas directrizes de técnica constitucional, quer nos processos realistas da execução, é de pura inspiração monárquica, e anda manifestamente distante do Estado de coisas que preparou o regime de 5 de Outubro.
E Salazar, o homem profundamente nacionalista [patriota], católico como o Portugal de sete séculos; ele que proclamou D. Afonso I «fundador do nacionalismo [patriotismo]» português; Salazar, o espírito culto e reflectido que é, não podia sonhar para os tempos novos que idealiza, para o futuro português que prepara, outros alicerces morais que não fossem os do Catolicismo, e outros alicerces políticos que não fossem os da Realeza hereditária, matriz admirável em que se criou Portugal: ou sejam – o Trono e o Altar.
Portugal foi durante sete séculos um Estado hierarquizado, vertebrado – imagem do Homem ou imagem de Deus: um pensamento a mandar; órgãos a executar; e o corpo a obedecer.
Só assim o Rei D. Afonso I pôde fundar Portugal, e o Rei D. João IV pôde restaurar a sua Independência.
Só assim Portugal pôde realizar a grande obra de seus descobrimentos e do seu Império.
Pulverizem a Autoridade de um só; invertam as funções, e ponham o dirigente à mercê dos votos ou caprichos dos dirigidos – e nem Portugal se teria fundado, nem Portugal se teria restaurado, nem o Império português se criaria.
Como podia Salazar inspirar-se no Portugal acéfalo ou anárquico, invertebrado e catastrófico da Demência parlamentar e liberal que a Revolução de 1820 introduziu entre nós, e a de 5 de Outubro consagrou, se tudo nele é propósito realizador, dentro do mais estreme nacionalismo [patriotismo]?

Alfredo Pimenta in «A Fundação e a Restauração de Portugal», 1940.

§

Nota: Alfredo Pimenta caiu num certo intelectualismo ao dar a entender que Salazar apenas foi quem foi, porque leu determinados autores. Seria mais justo dizer que Salazar, apesar de ter lido certos autores, herdou um espírito, uma moral e uma mentalidade que era normal no Portugal rural daquela época.

O mundo e a mediocridade

Andar na corda bamba.

O mundo gosta do que é medíocre, e assim é que tanto odeia o que é extremamente bom, como o que é demasiadamente mau. O que é muito bom, constitui vergonha para o medíocre, e o que é muito mau afigura-se-lhe aborrecimento e até perigo.

Mons. Fulton Sheen in «As Sete Palavras da Cruz», 1953.

Verdade inconveniente ou mentira reconfortante?


Tenham paciência, mas acho que é muito mais útil uma verdade, ainda que amarga e agressiva, do que um engano saboroso e consolador, e se as pessoas estão verdadeiramente interessadas neste processo de libertação, um dia verão que só a verdade o pode servir.

António Alçada Baptista in «Peregrinação Interior: Reflexões sobre Deus», 1971.

Sobre a oração de Fátima


Quanto à oração ensinada por Nossa Senhora aos pastorinhos, a 13 de Julho, é referida, pela primeira vez, no dia 8 de Setembro de 1917, pelo Dr. Carlos de Azevedo Mendes, numa carta à sua futura esposa, Maria dos Prazeres Courinha: "A oração que dizem a Senhora lhes ensinou é simples; é a seguinte: 'Ó meu Jesus perdoai-me. Livrai-me do fogo do inferno. Levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem'. Queres maior simplicidade? Achei interessante que a Senhora a tivesse ensinado, mas não lhes recomendasse que a rezassem" (DCF I, Doc. 55, de 8 de Setembro de 1917, p. 392). É estranha esta afirmação do Dr. Mendes, porque, poucos dias depois, a 27 de Setembro, no seu primeiro interrogatório, o Dr. Formigão perguntou se Nossa Senhora tinha ensinado alguma oração e Lúcia responde: "Ensinou, e quer que a recitemos, depois de cada mistério do rosário": 'Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem' (DCF I, Doc. 7, de 27 de Setembro de 1917, p. 61). O Dr. Formigão escreveu-a também num papelinho, exactamente na mesma forma, excepto: 'e aquelas que mais precisarem' (DCF 1, Doc. 8, de 27 de Setembro de 1917, p. 69). No dia 5 de Janeiro de 1922, Lúcia, já no Instituto de Van Zeller (Asilo de Vilar), no Porto, fez o seu primeiro escrito sobre as aparições. Sobre a aparição de Julho de 1917, há poucas novidades, relativamente ao que ela tinha dito em 1917, e sobre o segredo, escreveu: "Em seguida, confiou-nos algumas palavrinhas, dizendo-nos: Não digam isto a ninguém, só o podem dizer ao Francisco" (DCF III, 3, Doc. 685 de 5 de Janeiro de 1922).

Sob o pseudónimo de Visconde de Montelo, o Dr. Formigão escreveu, em 1918 e 1919, no jornal "A Guarda", uma série de artigos que intitulou "Os episódios de Fátima". Não chegou a publicar, nessa altura, a oração recolhida por ele, em Setembro de 1917. Mas, em Junho de 1921, escreveu um opúsculo, com o título, Os episódios maravilhosos de Fátima. Na página 12, colocou esta nota: "Reproduzo este interrogatório dos videntes, sem alteração de uma vírgula, exactamente como o redigi, no dia 29 de Setembro de 1917, em face das notas tomadas". Apesar desta afirmação, modificou a segunda parte da oração, com sentido diferente: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno e aliviai as almas do Purgatório, principalmente as mais abandonadas". Por este opúsculo e sobretudo pela obra, As grandes maravilhas de Fátima (1927), a fórmula modificada foi substituindo a primitiva, que era pouco conhecida. Deve-se ao escritor Antero de Figueiredo a reposição da fórmula primitiva, depois de interrogar a Irmã Lúcia e ter contactado com D. José Alves Correia e com o próprio Dr. Formigão, na sua obra, Fátima: Graças, Segredos, Mistérios, editada em Novembro de 1936: "Esta é a verdadeira oração ensinada pela Virgem Santíssima à Lúcia. A que anda impressa foi alterada por quem a editou, com certeza no bom intuito de a tornar mais acessível e mais conforme às fórmulas teológicas das preces em sufrágio das almas do Purgatório" (Ob. cit., nota 1, p. 369). A 18 de maio de 1941, a Ir. Lúcia explicava ao Pe. José Bernardo Gonçalves, seu confessor em Espanha, que a jaculatória tinha sido modificada, "fazendo a última súplica pelas almas do Purgatório, porque diziam não entender o sentido das últimas palavras; mas eu creio que Nossa Senhora se referia às almas que se encontram em maior perigo de condenação; foi esta a impressão que me ficou, e talvez que a V. Revª lhe pareça o mesmo, depois de ter lido a parte que escrevi do segredo e sabendo que no-la ensinou a seguir, em a 3ª [aparição], Julho" (Memórias e cartas da Irmã Lúcia, introdução, notas e tradução inglesa pelo Pe. Dr. António Maria Martins, S. J., Porto, L. E., 1973, p. 442 (fac-simile) e 443 (transcrição em português). E na Terceira Memória, redigida a 31 de Agosto de 1941, explica ao Senhor Bispo de Leiria a sua interpretação sobre a jaculatória, na sua forma primitiva: "Agora, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, compreenderá porque a mim me ficou a impressão de que as últimas palavras desta oração se referiam às almas que se encontram em maior perigo ou mais iminente de condenação" (Memórias, III, 3). Na Quarta Memória, a Irmã Lúcia transcreve duas vezes a oração, segundo a fórmula primitiva, com pequeníssimas variantes (Memórias, IV, I, 16 e II, 5). A 23 de Junho de 1944, D. José, Bispo de Leiria, autorizava a publicação e indulgenciava duas "orações que podem ser intercaladas nos mistérios do rosário". A decisão de publicar as duas versões, praticamente ao mesmo nível de valor, embora com o esclarecimento de que a primeira "foi ensinada por Nossa Senhora à Ir. Lúcia, vidente de Fátima" ("Voz da Fátima", 22 (262), 13 Jul. 1944, p. 4, col. 4), não ajudou a impor, como fórmula única, aquela que era mais aceitável, em razão da sua origem. Durante algum tempo, verificou-se uma certa hesitação, mas, a pouco e pouco, foi-se deixando de usar a fórmula que refere "as almas do Purgatório".

Cónego Luciano Cristino in «A terceira Aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria em 13 de Julho de 1917».

A igualdade é um falso deus


A igualdade – fim social é, não só, contra naturam, mas também, logicamente, um absurdo; para que o não fosse, seria preciso, primeiro, que o indivíduo fosse o fim da sociedade, segundo, que a igualdade fosse o fim do indivíduo; ora o fim do indivíduo pode ser a sua utilidade, o seu bem; mas como a igualdade?
O conceito de igualdade encerra mesmo dois absurdos – a negação das desigualdades e a negação das diferenças; com efeito os elementos sociais ou são comparáveis e neste caso desiguais, ou incomparáveis e nesse caso diferentes. A sociologia igualitária radicalmente desconhece os dois aspectos e, assim, por um lado, nivela superior e inferior (destruição da aristocracia, do escol, do bom gosto, etc.) e por outro lado considera idêntico o que é diferente (estabelecendo artificialmente um tipo único de homem, estereotipado pela uniformidade do critério teórico ou legislativo, sem atenção às diferenças [legítimas] do tempo, local, nação, etc.).

José Pequito Rebelo in «Pela dedução à Monarquia».

Temos de ser mente aberta?


Eu estou incuravelmente convencido que o objectivo de abrir a mente, como o de abrir a boca, é voltar a fechá-la perante algo sólido.

G. K. Chesterton in «Autobiografia».

Rios de Sangue


Enoch Powell, no seu discurso de 1968 Rivers of Blood, avisou para os perigos de uma política de portas abertas à imigração. E por isso foi apelidado de louco, extremista, racista, nazi. Mas eis agora os frutos da cegueira dos seus detractores:

O ateísmo é ilógico


Testemunho de um ateu que se converteu ao Cristianismo:

O meu argumento contra Deus era o de que o universo parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirara essa ideia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha é torta se não souber o que é uma linha recta. Com o que eu comparava o universo quando o chamava de injusto? Se o espectáculo inteiro era mau do começo ao fim, como é que eu, fazendo parte dele, podia ter uma reacção assim tão violenta? Um homem sente o corpo molhado quando entra na água porque não é um animal aquático; um peixe não se sente assim. E claro que eu poderia ter desistido da minha ideia de justiça dizendo que ela não passava de uma ideia particular minha. Se procedesse assim, porém, o meu argumento contra Deus também desmoronaria – pois depende da premissa de que o mundo é realmente injusto, e não de que simplesmente não agrada aos meus caprichos pessoais. Assim, no próprio acto de tentar provar que Deus não existe – ou, por outra, que a realidade como um todo não tem sentido –, vi-me forçado a admitir que uma parte da realidade – a saber, a minha ideia de justiça – tem sentido, sim. Ou seja, o ateísmo é uma solução simplista. Se o universo inteiro não tivesse sentido, nunca perceberíamos que ele não tem sentido – do mesmo modo que, se não existisse luz no universo e as criaturas não tivessem olhos, nunca nos saberíamos imersos na escuridão. A própria palavra escuridão não teria significado.

C. S. Lewis in «Cristianismo Puro e Simples».

Dívida pública e democracia


A dívida pública portuguesa aumentou para 233 mil milhões de euros (140,2% do PIB). E por mais que tentem escamotear, é evidente que o problema da dívida pública está intimamente ligado com a democracia. Sempre que Portugal esteve sujeito a regimes baseados no voto popular, nos aparelhos partidários e na maçonaria que os domina aos dois, a dívida pública aumentou em termos absolutos. E porquê? Pois uma dívida pública elevada torna os Estados escravos do Crédito e da Banca.

Pela análise do gráfico, que relaciona a dívida pública em função do PIB no período 1850-2010, é possível constatar que só durante a Ditadura Militar/Estado Novo tivemos uma redução da dívida pública em termos absolutos, chegando a uns notáveis 13,5% do PIB. Já nos regimes demo-liberais, a dívida pública teve sempre tendência para aumentar ou em manter-se em valores astronómicos.