A infância de Salazar


Presentemente conhecem-se poucos pormenores sobre a infância de Oliveira Salazar. Mas não é difícil imaginá-lo crescendo naquela casa de gente trabalhadora e educada, tão perto da terra e do céu, passando o tempo a brincar com moderação, pois o futuro ditador sempre foi uma pessoa moderada – nunca se separando dos verdes campos, nunca contrariando os seus pais. Todas as informações biográficas disponíveis falam de Oliveira Salazar como uma criança exemplar, dotada de virtudes precoces: meiguice, moderação, filho exemplar, amigo exemplar. O pequeno Oliveira, segundo alguns biógrafos, esconde nos bolsos o pão a que tem direito, para o distribuir pelos pobres da aldeia. Nunca briga com outras crianças. Não falta a nenhuma missa na Igreja de Nossa Senhora.
É, sem dúvida, uma criança precoce, mas também uma criança feliz. Na casa dos pais tem uma vida de amor sereno e concórdia, de que nunca se esquecerá. Dom António e Dona Maria são pessoas tementes a Deus, trabalhando muito, mas felizes por estarem juntos e poderem criar os filhos, apesar de alguns sacrifícios. A grata recordação da vida familiar estará sempre presente no pensamento e actividade política de Salazar, e domina, hoje, a concepção do Estado Novo português.
Se quiséssemos ir ainda mais longe com a análise da formação moral e política de Salazar, poderíamos descobrir outros elementos fundamentais, que só uma infância como a sua podia aperfeiçoar e promover. Por exemplo, a grande importância que Salazar não se cansa de dar, ainda antes de ser professor de Economia Política e Finanças, à agricultura e aos trabalhos agrários. Passou a sua infância em Santa Comba, junto à terra, conhecendo a gloriosa servidão do lavrador, tão rica em significados morais e religiosos, que dificilmente poderia trocar pela vida pulverizada, artificial e acósmica do trabalhador da cidade. De igual modo, a importância que Salazar dá à religião na vida do homem e da sociedade tem raízes na sua infância piedosa, inabalada por crises. Os seus pais eram pessoas com uma religiosidade moderada – o tipo de piedade católica popular. Oliveira Salazar nunca perdeu a sua fé, na infância ou no princípio da adolescência, para a reencontrar mais tarde, após longos devaneios e lutas. A sua religiosidade é totalmente desprovida de dramatismo. É algo que aprendera na infância e que compreendeu com a maturidade. "Aprendera", aqui, é utilizado sem nenhum sentido pejorativo; aprendeu a religião, amando-a, tal como aprendem as crianças todas as coisas fundamentais: o andar, o falar, os jogos, as canções.
Como desde muito cedo demonstrou ser uma criança-prodígio, moderada em tudo, os pais pensaram dar-lhe uma formação sacerdotal. Gostava das actividades da igreja, integrava o coro infantil e dava as respostas ao Senhor Padre António, em latim, talvez com alguns erros, mas de um modo que encantava a sua mente, maravilhada com todos os mistérios eclesiais. Aprendeu a ler e a escrever com um certo Dom José Duarte, e depois na escola primária que fora construída no Vimeiro. Fez amizade com algumas crianças, entre os 10 e os 14 anos, que estudavam com "a menina Isabel", antiga governanta da família do Barão de Santa Comba. Alguns biógrafos falam de uma paixão de Oliveira Salazar para com a filha de um fazendeiro abastado. Era a rapariga mais bonita do Vimieiro e todas as crianças podiam brincar com ela, excepto o pequeno Oliveira; os pais não lhe permitiam ficar muito amigo da filha de um homem tão rico. Essa tenra paixão teria sido, segundo alguns biógrafos, a verdadeira razão para Oliveira Salazar abraçar a vida eclesiástica. A família, e sobretudo a Dona Maria, encorajou-o nessa decisão. Nada seria tão lisonjeiro para os pais do que vê-lo, um dia, sacerdote em Santa Comba. Uma vida tranquila, ao lado dos seus familiares, livre de quaisquer preocupações; esse ideal correspondia perfeitamente à piedade calma do pequeno Oliveira Salazar.

Mircea Eliade in «Salazar e a Revolução em Portugal», 1942.

4 comentários:

Anónimo disse...

Muita falta faz....Grande Dr.Salazar!

Anónimo disse...

Grande Homem

Unknown disse...

Salve Maria!

Sim...Grande homem...

VERITATIS disse...

Salve!

Sim, foi o último grande estadista português.