Portugueses: poucos quanto fortes


A vós, à geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no mundo;
Não digo inda no mundo, mas no amigo
Curral de Quem governa o Céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça ou pouca obediência
Da Madre que nos Céus está em essência:

Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que, à custa de vossas várias mortes,
A Lei da vida eterna dilatais:
Assim do Céu deitadas são as sortes
Que vós, por muito pouco que sejais,
Muito façais na santa Cristandade,
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!

Luís Vaz de Camões in «Os Lusíadas», 1572.

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