Das qualidades dos Cavaleiros da Ordem de Santiago


Nos estatutos desta Ordem, capítulo quarto, se ordena que o cavaleiro, a quem se houver de dar o hábito, seja de limpa e nobre geração, sem raça alguma de Mouro ou Judeu, ou outra infecta nação, e no Definitório novo se tornou a definir o mesmo; e é isto tão necessário que quem, com alguma das faltas que ali se apontam, recebesse o hábito, cometeria um grande sacrilégio, e por isso quando lhe fazem profissão, depois de lhe perguntarem se tem alguma coisa de Mourisco ou da nação, e ele responder que não, lhe declaram logo que veja bem o que diz, porque em qualquer tempo que se souber o contrário, o deitarão da Ordem, e lhe tirarão o hábito, com o que bem se dá a entender que não ficará válida a profissão, nem o tal professo poderá comer pão algum da Ordem, pois realmente não é professo.
O que nesta matéria é para estranhar mais que tudo, é que haja homens, os quais não podendo ignorar que há alguma falta destas em sua geração, não deixam contudo de ser pretendentes ao hábito, sendo que lhe não pode servir a pretensão mais que de maior ignominia, porque se não alcançar o fim dela por este impedimento, ficará mais patente aquilo que entre muitos, ou se não sabia, ou era duvidoso. E se o alcançar, ainda tenho isto por pior, porque é embaraçar a consciência com os escrúpulos que temos dito.
Costumam-se fazer as diligências com grande exacção e com muito segredo, sem intervir o pretendente, nem outrem por ele, mais que com os custos que primeiro se depositam; e não permita Deus que nesta matéria haja cavaleiro, ou freire, que não faça com toda a inteireza o que tem obrigação, porque além de cometer um grave pecado de perjúrio e sacrilégio; seria digno de gravíssimo castigo, pois se pode daí seguir um tão grande absurdo, como é desonrar toda uma Religião [= Ordem Religiosa] por amor de um sujeito, que por outros caminhos pode alcançar grandes honras, se as merece.

Pe. António Pereira in «Compêndio e Declaração da Regra e Estatutos da Ordem Militar de Santiago», 1659.

O diabo nas Câmaras


Alban Stolz, alemão, dizia em 1845: «Se fosse eu o diabo, e o povo me elegesse para deputado, só apresentaria às Câmaras uma proposta que atulharia o Inferno de clientes: Proporia a completa separação das escolas da Igreja.»
Em quantos deputados não está o demónio encarnado!...

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 15, Março de 1896.

João de Deus


Entusiastas as festas em honra do nosso mavioso lírico João de Deus. Tudo quanto se lhe fez, ele o merecia, pelo seu talento, pela sua modéstia, pelo seu desinteresse. Mas é pena que entre tantas demonstrações de simpatia para com o ilustre vate, ninguém se lembrasse em Lisboa de agradecer ao Dador de todos os bens a conservação de vida tão preciosa, para continuar a honrar a Pátria com o seu nome e a moralizar com os seus escritos.
Uma solenidade religiosa, por simples que ela fosse, no dia de João de Deus, santo, para comemorar o natalício de João de Deus, poeta, teria dado aos festejos profanos em sua honra o mesmo brilho que o sol comunica à lua; teria sido mais sério tanto regozijo e mais português e mais digno de João de Deus. Era assim que faziam os antigos portugueses: para comemorar altos feitos ou perpetuar a memória de brilhantes batalhas, levantavam templos ao Deus das vitórias e instituíam solenidades ao Rei imortal.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 1º Ano, Nº 3, Março de 1895.

Do orçamento da República Francesa para 1896


O projecto do orçamento dos cultos para 1896, em França, apresenta uma diminuição de 270.800 francos ao votado para 1895.
Estas reduções somente são feitas para o culto católico, porque aos protestantes e aos judeus são conservados todos os créditos, excepto uma pequena redução de 3.800 francos. Para os seminários católicos não é estabelecida nenhuma subvenção, enquanto aos dois seminários protestantes são dados 26.500 francos, e o seminário israelita recebe 22.000 francos do Estado.
Não espanta, porque actualmente a guerra contra a Igreja Católica, em França, é encarniçada. O ministério francês é franco-mação e a franco-maçonaria tem o maior empenho possível em destruir e Igreja e exterminá-la da face da terra. Por isso combate-se o dogma, atacam-se as ordens religiosas, suprime-se em parte o orçamento dos cultos e muitas outras iniquidades são consumadas.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 1º Ano, Nº 12, Dezembro de 1895.

Adágios portugueses sobre o mês de Março


Água de Março, pior é que nódoa no pano.
Em Março, queima a velha o maço.
Em Março, nem rabo de gato molhado.
Março Marçagão, pela manhã rosto de cão, à tarde Verão.
Março ventoso, Abril chuvoso, do bom colmeal farão astroso.
Quando troveja em Março, aparelha os cubos e o braço.
Quem não poda em Março, vindima no regaço.
Se não chover entre Março e Abril, venderá El-Rei o carro e o carril.
Sol de Março pega como pegamaço e fere como maço.
Se queres bom cabaço, semeia em Março.

Fonte: «Vocabulário Português e Latino», Tomo V, 1716.

Dom Frei Afonso de Portugal


Dom Frei Afonso de Portugal, filho natural d'El-Rei Dom Afonso Henriques: Nos primeiros anos passou à conquista da Terra Santa; E pelo estremado valor, que mostrou nas mais dificultosas empresas daqueles tempos, o elegeram Grão-Mestre da Ordem de São João, cujo hábito professara; Celebrou um Capítulo Geral, em que fez leis utilíssimas ao bom governo da sua Religião [Ordem Religiosa]; Renunciando depois o cargo, voltou a Portugal e faleceu neste dia [1 de Março], ano de 1207. Jaz em nobre sepultura, na Igreja de São João de Alporão da Vila de Santarém.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Crime de Lesa-Majestade


Crime de Lesa-Majestade é a traição cometida contra a pessoa d'El-Rei, ou seu Estado Real, e é comparada à lepra. liv. 5, tit. 6. (k)
Crime de Lesa-Majestade é tratar a morte do seu Rei, ou Rainha, ou de algum de seus filhos legítimos. ibid. § 1 (a)
Crime de Lesa-Majestade é levantar-se com o Castelo ou Fortaleza d'El-Rei, não a querendo entregar; ou deixá-la perder por sua culpa. ibid. § 2 (b)
Crime de Lesa-Majestade é passar-se para o campo inimigo, contra o Reino, em tempo de guerra. ibid. § 3 (c)
Crime de Lesa-Majestade é dar conselho aos inimigos d'El-Rei por carta, em seu desserviço, ou de seu Real Estado. ibid. § 4 (d)
Crime de Lesa-Majestade é fazer confederação contra o Rei e seu Estado, ou tratar de se levantar contra ele, ou dar para isso conselho, ajuda e favor. ibid. § 5 (e)
Crime de Lesa-Majestade é tirar da prisão ao culpado em crime de traição contra El-Rei, ou dar ajuda para isso, ou para que fuja. ibid. § 6 (f)
Crime de Lesa-Majestade é matar ou ferir em presença d'El-Rei alguma pessoa que estiver em sua companhia. ibid. § 7 (g)
Crime de Lesa-Majestade é quebrar ou derribar a imagem ou armas d'El-Rei em desprezo dele. ibid. § 8 (h)
Crime de Lesa-Majestade, quem o cometer tem pena de morte cruel e de confiscação de todos os seus bens para a Coroa. ibid. § 9 (i)
Crime de Lesa-Majestade, o culpado nele falecendo, antes de ser preso ou acusado, se pode inquirir contra ele depois da sua morte, para que seja sua memória danada e seus bens confiscados para a Coroa. ibid. § 11 (k)
Crime de Lesa-Majestade, se o confederado o revelar depois d'El-Rei o saber, não será relevado da pena; mas será havido por cometedor do tal delito. ibid. § 12 (l)
Crimes de Lesa-Majestade da segunda cabeça são tirar preso que vai a justiça; matar ou dar ajuda para fugirem os reféns; quebrar cadeia da Corte para tirar o preso condenado ou confesso; matar seu inimigo estando preso, ou a algum Julgador; faltar com a obediência ao Ministro que leva ordens d'El-Rei; não desistir do cargo para entrar aquele que leva Provisão d'El-Rei. ibid. § 22 usque ad 27 (m)

Fonte: «Repertório das Ordenações e Leis do Reino de Portugal», Tomo I, 1749.

São Torcato


São Torcato Félix, Bispo do Porto e juntamente Arcebispo de Braga; Assistiu no XVI Concílio de Toledo, onde deu claríssimas provas de sólida virtude e alta sabedoria. Padeceu martírio com vinte e sete companheiros, naturais da mesma Cidade de Braga, na invasão dos Mouros, junto a Guimarães, ano de 719. Seus corpos são venerados em uma Igreja do nome de São Torcato, não longe da Vila de Guimarães, onde resplandece com milagres.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Os três dias de trevas


As profecias continuam:
Por cúmulo de desgraças, o mundo será envolto em trevas de três dias contínuos, durante os quais nenhum meio de iluminação funcionará, a não ser velas bentas...
O que acontecerá nessa noite pavorosa é indiscritível! Muitos enlouquecerão, muitos suicidar-se-ão.
Os próprios demónios – afirmam as profecias – sairão do Inferno para matar ímpios.
A confusão será tal, que ninguém compreenderá mais nada.
À guerra exterior, feroz e destruidora, deve pois juntar-se uma calamidade, não menos horrível e destruidora – a de três dias de trevas, em seguida.
A História já regista um acontecimento deste género, porém de menor extensão e de duração mais limitada.
No dia 19 de Maio de 1870 teve lugar este estranho fenómeno, na América do Norte.
Uma testemunha desta época assim o descreveu:
«Pela manhã o sol surgiu radiante como sempre; porém, logo encobriu-se o seu disco.
As nuvens se condensaram; no seu bojo coriscavam os raios e ribombavam o trovão, caindo em seguida uma pequena chuva.
Pelas nove horas, as nuvens se adelgaçaram, assumindo um tom acobreado.
Na terra, nos montes, nas águas e nos homens, se reflectia uma luz estranha e extraterrestre. Passados alguns minutos, uma nuvem negra e pejada cobriu todo o firmamento, ficando apenas uma nesga mais clara no horizonte.
A escuridão era como costumava ser às nove horas da noite, nos dias estivais.
A extensão desta escuridão foi extraordinária. Alargou-se para o oriente, até Falmouth, e para ocidente, até aos territórios mais distantes de Albany.
Também a escuridão da noite não foi menos descumunal e lúgubre; embora se estivesse no plenilúnio, não era possível distinguirem-se quaisquer objectos, sem o auxílio artificial.
Depois da meia-noite, as trevas se desvaneceram, e a lua, ao aparecer, tinha aparência de sangue.»
Tal dia de trevas, já presenciado, durou apenas umas 10 horas, e não passou de um fenómeno meteorológico ou climatológico, que tem uma explicação natural no ciclo dos eclipses solares e lunares.
Os três dias de trevas preditos pelos videntes, podem ser um fenómeno natural do mesmo valor, embora mais demorado, mais extenso e mais horrível.
Há qualquer coisa de extraordinário, entretanto, que parece preternatural: é o facto de nenhum meio de iluminação funcionar, a não ser velas bentas.
Que nenhuma iluminação funcione, pode ser ainda um fenómeno natural, pois rarefazendo o oxigénio, a combustão torna-se impossível, e aumentando ou diminuindo a densidade eléctrica do ar, pode haver impossibilidade de iluminação artificial, proveniente da electricidade.
Se as velas bentas podem ser acesas e dar a sua luz, enquanto os outros meios de iluminação não funcionam, há aqui uma intervenção divina.

Mas há coisa mais horrenda nestas noites de trevas.
As profecias são a este respeito de uma lucidez macabra e de uma expressão pavorosa:
«Muitos maus enlouquecerão, muitos suicidar-se-ão, dizem os videntes. Os próprios demónios – afirmam várias profecias – sairão do Inferno para matar os ímpios. A confusão será tal que ninguém compreenderá mais nada.»
O facto das trevas pode ser classificado nos fenómenos de ordem meteorológica, não há dúvida; o enlouquecimento e os numerosos suicídios daqueles que não vivem mais conforme a fé e a razão, pode ser consequência do medo e do espanto que necessariamente há-de apoderar-se dos homens; mas quanto à aparição do demónio, este facto afasta-se das leis da natureza, e é nas ordens de Deus que devemos procurar a sua solução.
Deus permitirá, pois, que, nestes dias angustiosos, os demónios saiam do abismo e venham cá à terra, servir de instrumento justiceiro nas mãos do Omnipotente.
O demónio, que tanto odeia aos homens, que procura perdê-los por todos os meios, terá, durante estes dias, a licença de exercer o seu mal contido ódio, e de se entregar aos excessos das suas vinganças contra os homens.
Felizmente este ódio, como fazem notar as profecias, se exercerá, sobretudo, contra os maus, contra todos aqueles que vivem longe de Deus, da Sua Igreja, dos Sacramentos e dos Mandamentos divinos.
É nas fileiras dos maus, dos apóstatas, dos renegados, dos vendidos, dos gozadores, que o demónio fará a sua colheita lúgubre, purificando a terra e dando a todos uma lição tremenda da Justiça divina.
E quando é que tais trevas invadirão o mundo?
Nenhuma indicação precisa nos é dada pelos videntes.
Se certos acontecimentos indicadores nos foram dados nas profecias, parece entretanto, que nenhum dos profetas chegou a marcar o ano ou o mês da sua realização.
Uns sábios julgaram poder aplicar ao nosso tempo a horrenda catástrofe final...
Damos apenas estas indicações, sem entretanto afirmar o sentido profético de tal indicação, porque nos faltam documentos a esse respeito.
O facto há-de acontecer, dizem eles, quando, porém, se realizará tal profecia? Não nos é dado resolver o problema; entretanto, em vista de sua gravidade, é bom relembrar o conselho do Mestre: – Estai preparados!
Se o ano passar em paz e sossego, nada teremos perdido, tomando umas precauções previdentes; se acontecer deveras, tudo teremos ganho com estas precauções.

Pe. Júlio Maria de Lombaerde in «O Fim do Mundo está próximo?», 1936.

República universal: projecto maçónico


A Maçonaria (diz o Irmão Ragon, autor sagrado da seita, na sua obra Curso Filosófico) não é de país nenhum; não é francesa, escocesa ou americana, etc. É uma e universal: tem muitos centros de acção, mas só um centro de unidade e universalidade. Se ela perdesse esse carácter de unidade e universalidade, deixaria de existir.
Logo, todas as lojas maçónicas, assim como todas as repúblicas e monarquias liberais, por elas dirigidas, obedecem a esse centro comum de unidade, e têm a mesma essência, embora com diverso nome, segundo os fins desse centro.
Diz a Aliança Republicana Universal, organizada em Nova Iorque em 1857: O fim da associação é afirmar o direito de todos os países de mudarem os seus governos em republicanos, de se unirem entre si, para formarem uma solidariedade republicana.
Logo, o fim último que a Maçonaria tem em vista, é formar uma República universal em todo o mundo.
Que terrível futuro nos preparam os tais filantropos!
As palavras principais que o Grão-Mestre dirige à Perfeita-Mestra, quando ela é admitida a este grau, são estas: A principal das vossas obrigações será irritar o povo contra os Reis e os Padres: no botequim, no teatro, nos bailes, trabalhai com esta sacrossanta intenção. (Gautr. pág. 129).
O juramento dos membros da sociedade das Quatro Estações contém estas palavras: Em nome da República, juro ódio eterno a todos os Reis, etc. (Gautr. pág. 129).
Logo, a Maçonaria nem quer Reis, que lhe estorvem as suas maldades, nem Padres, que lhas descubram.
Vê-se, pois, que o fim da Maçonaria, por essência cosmopolita e universal, é estabelecer a todo o custo a República ou Anarquia em todo o mundo, e por consequência tolera a Monarquia constitucional, porque ela na essência é o mesmo que a República, e porque ambas produzem os mesmos efeitos.
Por isso conhece-se com clareza, que ambos estes sistemas foram inventados pela seita maçónica mui de propósito com o fim malévolo de roubar as Nações, e acabar com a Igreja Católica, e com os seus ministros.

Pe. Casimiro José Vieira in «Apontamentos para a História da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte», 1883.

A lei


Parece-me então que, na opinião dos mais eminentes sábios, a lei não é o produto da inteligência humana, nem da vontade popular, mas algo eterno que rege o universo por meio de sábios mandatos e sábias proibições. Logo – como costumavam dizer – esta lei que é, por sua vez, a primeira e a última, identifica-se com a mente divina, enquanto esta trabalha racionalmente, dando ou tirando impulso a todas as coisas. Portanto, é legítimo celebrar uma lei que é o presente dos deuses ao género humano e que é a razão e a inteligência do sábio que, no entanto, é capaz de mandar e proibir.

Cícero in «De Legibus», séc. I a.C.

Aniversário de nascimento do Padre António Vieira


No mesmo dia [6 de Fevereiro], ano de 1608, nasceu em Lisboa o Padre António Vieira da Companhia de Jesus. Foi baptizado na Freguesia da Sé, na mesma pia onde o fora Santo António, cuja língua e espírito soube imitar na eloquência, agudeza, e fervor, com que expôs a palavra Divina, sendo, sem controvérsia, no seu tempo (e o será nos futuros), a glória dos Púlpitos, a luz, e Mestre dos Prégadores. Dele tratamos em outro dia largamente.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Adágios portugueses sobre o mês de Fevereiro


A Castanha e o Vesugo em Fevereiro não tem sumo.
Água de Fevereiro mata o onzeneiro.
Fevereiro couveiro faz a perdiz ao poleiro.
Fevereiro coxo, em seus dias vinte e outo.
Fevereiro, severas de frio e não de linho.
Lá vem Fevereiro, que leva a ovelha e o carneiro.
Para parte de Fevereiro, guarda lenha.
Janeiro geoso, Fevereiro nevoso, Março molinhoso, Abril chuvoso, Maio ventoso, faz o ano formoso.
Quando não chove em Fevereiro, não há bom prado, nem bom centeio.
Fevereiro faz dia, e logo Santa Maria.

Fonte: «Vocabulário Português e Latino», Tomo IV, 1713.

Aniversário de nascimento do Cardeal-Rei D. Henrique


No mesmo dia [31 de Janeiro], ano de 1512, nasceu em Lisboa o Infante Dom Henrique, filho dos Reis Dom Manuel e Dona Maria, e o filho que, nas feições do rosto, mais se pareceu a El-Rei seu pai. Foi baptizado por Dom Jorge de Almeida, Bispo de Coimbra, e pelos acidentes e variedades do tempo, veio a ser Rei de Portugal, já na última idade. No dia do seu nascimento se viu Lisboa coberta de neve, coisa naquela Cidade vista raras vezes. Fizeram-se vários juízos: Uns diriam que o novo Príncipe, por nascer tão remoto da sucessão do Reino, sem dúvida seguiria com singular pureza de costumes a vida Eclesiástica, da qual aquela virtude (simbolizada na neve) é o realce mais precioso. Outros poderiam dizer que com aquele Príncipe se havia de esfriar o antigo ardor dos Portugueses, com que sempre se uniram em defesa da pátria e da liberdade; e uns e outros (se fizeram estes juízos) é sem dúvida que acertaram neles.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Contar


Contar – Não lhe valeu à Aritmética ser uma Ciência infalível em si mesma, mas antes ao contrário também foi regenerada, revolucionada e até Democratizada. É tão conhecida já, como a virtude, a política, a humanidade, a boa-fé, e todas as demais lindezas Democráticas. Ainda não podemos penetrar quais sejam as suas regras; porque umas vezes 150, por exemplo, são 15.000; e outras, num volver de olhos, os 15.000 passam a 150. A experiência, contudo, tem mostrado que não deixa de ter algumas regras fixas. Porque quando se trata de perdas republicanas, decresce sempre a sua Aritmética, e sempre alguns zeros. Mas, oh legalidade republicana! Tu não ficas com coisa alguma alheia, e tu fazes aparecer estes mesmos zeros (que haviam escapado das unhas) quando contas tuas vitórias, ou nos impões contribuições. Então é quando nos restituis com usura os zeros que nos havias roubado.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 6, 1832.

A Maçonaria revela seus intentos


Vamos já à Maçonaria.
Como sabem os leitores, esta menina até hoje, com receio que a sua beleza não fosse muito atraente, fechava-se nas lojas e de lá encapotada com sombras misteriosas, ordenava e obrigava os seus muitos namorados parlamentos a fazer-lhe a vontadinha. Mas com os arrebóis matutinos do século vinte, saiu o réptil da cova, e apareceu com toda a sua fealdade a luz luciferina da Acácia, seu novo periódico oficial, que proclamou aos quatro ventos:
«A Franco-Maçonaria é uma parte organizada do partido republicano contra a Igreja Católica... A Franco-Maçonaria é uma igreja contra a Igreja – é o contra-catolicismo»...
O novo órgão da Maçonaria desmascarada foi anunciado por uma pastoral, em que se expunha o programa da Acácia:
«A luta contra o ensino da Igreja Católica e a sua disciplina é a preocupação principal da maioria dos franco-mações franceses, belgas, italianos, espanhóis, portugueses (notem bem) e americanos do Sul»...
«Esta situação – acrescenta a circular – não é a mesma nos países protestantes, porque a Maçonaria não trata de descristianizar, mas sim de descatolizar os países latinos, isto é, os católicos».
Escusávamos que nos dissesse a Acácia o que era a Maçonaria, o que quer e de onde vem. Já sabíamos tudo isso, e já aqui desmascaramos muitas vezes as suas traças, e nos jornais católicos não havia ignorância a esse respeito; todos sabiam que só podia tal gente vir do inferno e que de tal parte não sai coisa boa. Mas é bom que se saiba este novo e ousado passado das lojas luciferinas, para se precaver quem deve estar alerta.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 9º Ano, Nº 2, Fevereiro de 1903.