Aniversário de nascimento d'El-Rei D. Afonso Henriques


Dom Afonso Henriques, filho do Conde D. Henrique e de sua mulher, a Rainha Dona Tereza, senhores de Portugal, nasceu na Vila de Guimarães, neste dia [25 de Julho], ano de 1109, e logo no princípio da vida participou favores do Céu; porque nascendo com um defeito natural, que o fazia inábil para os exercícios militares (único meio de conseguir a Coroa) seu aio, o famoso Egas Moniz, o levou a uma milagrosa imagem da Mãe de Deus, em cuja soberana protecção achou pronto remédio; e restituído à inteira perfeição da natureza, assistido de sobrenatural protecção, veio a ser um dos mais esclarecidos Príncipes, de quantos enobreceu a fama e eternizou a memória.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Escapulário


Escapulário dos Religiosos é uma tira larga de pano que os Religiosos trazem sobre o hábito, e que dos ombros desce ao longo do peito e das costas.
Para os simples fiéis o escapulário consta de dois bocados de pano unidos por dois cordões que se suspendem ao pescoço, ficando uma parte para o lado do peito e outra para o lado das costas. O escapulário é um distintivo para os fiéis que entram nalguma Ordem Terceira ou Confraria que concede esse privilégio, e ao seu uso andam anexas muitas indulgências. Para as lucrar é necessário receber nos ombros o escapulário, benzido por Sacerdote que tenha a faculdade de o benzer, trazê-lo ao pescoço dia e noite, e ter o nome inscrito no Registo da Ordem Terceira ou da Confraria. Só o primeiro escapulário – o da imposição – tem de ser benzido; qualquer outro que o substitua não carece de bênção, excepto o das Ordens. O escapulário de algumas Associações pode ser substituído por uma medalha de metal, tendo de um lado a imagem do Coração de Jesus, e do outro lado a imagem de Nossa Senhora. A medalha tem de ser benzida por quem tem o privilégio de benzer o escapulário.
Aquele que tendo recebido o escapulário, o tivesse deixado, mesmo por tempo considerável, não carecia de nova imposição (a não ser que o tivesse repelido por desprezo ou impiedade), para tornar a trazê-lo e lucrar as Indulgências. Estando deteriorado o escapulário ou tendo-se perdido, é preciso substitui-lo por outro igual, quer benzido quer não. A medalha que substitui o escapulário pode trazer-se ao pescoço ou de outro modo qualquer, e, se for perdida, deve ser substituída por outra, que há-de ser benzida.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

A face esquerda e a face direita da Revolução


Todo o mundo moderno se dividiu em conservadores e progressistas. A função dos progressistas é cometer erros continuamente. A função dos conservadores é evitar que os erros sejam corrigidos. Mesmo quando um revolucionário se arrepende da sua própria revolução, o falso tradicionalista já a defende como parte da sua "tradição". Assim, temos dois tipos de pessoas: o avançado, que nos leva à ruína, e o retrospectivo, que admira as ruínas. Cada novo erro do progressista, ou pedante, torna-se instantaneamente numa lenda de imemorial antiguidade para o snob. E isto é chamado de equilíbrio, ou controlo mútuo, na nossa Constituição.

G. K. Chesterton in revista «The Illustrated London News», 19 de Abril de 1924.


Reconhecimento oficial dos Reais Direitos de D. Miguel


Na conformidade, pois, do que o Senhor Rei D. João IV havia estabelecido de que se chamasse o Reino a Cortes pelos Três Estados todas as vezes que o Bem Público assim o exigisse; na conformidade do que o Senhor Rei D. Pedro II, sendo Regente do Reino, observou, convocando as Cortes de 1668; na conformidade do que observou o Governo do Reino no 1º de Setembro de 1820, convocando os Três Estados para evitar o iminente perigo que corria a Nação e a Monarquia pela rebelião que tinha ocorrido no Porto, achando-se também o mesmo Reino chamado já a Cortes pela Carta de Lei de Meu Augusto Pai, de 4 de Junho de 1824, Mandei congregar os Três Estados do Reino, para que, conforme seu Direito indisputável, pusessem termo a um tão grave assunto, como era o da Sucessão à Coroa destes Reinos, cuja incerteza conservara até então o Reino naquele estado de agitação e de infortúnio. Para este efeito, Mandei expedir Cartas Convocatórias às Câmaras das Cidades e Vilas que têm voto em Cortes, guardando-se nas mesmas Cartas todas as fórmulas estabelecidas. Foram do mesmo modo observados todos os estilos praticados na Monarquia por ocasião da reunião dos Estados e observados com maior escrúpulo do que em Época alguma se praticara.
Do mesmo modo que o Senhor Rei D. Afonso I, Glorioso Fundador da Monarquia, apresentei-Me aos Estados no dia da abertura das Cortes sem as Insígnias Reais, e nenhum acto de Soberania como Rei de Portugal exerci antes da declaração dos Estados, de que a Coroa Me pertencia de Direito pelas Leis Fundamentais da Monarquia.
Os Três Estados do Reino em Cortes pronunciaram a sua Decisão, que firmaram com os exuberantes motivos, em que a fundaram pelo seu Assento de 11 de Julho de 1828 à face de todo o Mundo.

Fonte: «Manifesto de Sua Majestade Fidelíssima, El-Rei Nosso Senhor, o Senhor D. Miguel I», 1832.

Fernão Mendes Pinto


Fernão Mendes Pinto foi homem de singular memória e de engenho singular e de vastíssimas notícias, adquiridas nas suas tão célebres peregrinações, que lhe adquiriram fama eterna e universal estimação entre os maiores Príncipes da Ásia e da Europa. Nasceu em Montemor-o-Velho e foi pajem do Duque de Aveiro, Dom Jorge, e o mesmo Duque o favoreceu muito para passar honradamente à Índia, onde discorrendo por muitas partes, foi treze vezes cativo, e vendido dezassete vezes: Voltando a Portugal ao tempo que governava a Rainha Dona Catarina, e não conseguindo o prémio que esperava de seus trabalhos, se retirou à Vila de Almada, onde escreveu o notável livro das suas peregrinações, no qual (como afirmam graves Autores) andou mui diminuto no que refere das grandezas da China e do Japão e de outros Reinos do Oriente. Entrando Filipe II em Portugal, o tratou com muitas estimações, e lhe fez mercês, e gostava muito de o ouvir. Morreu na mesma Vila de Almada, neste dia [8 de Julho], ano de 1583.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Da Tourada


Pois é verdade, tenho esse fraco português, prefiro touros. Cada raça possui o seu sport próprio, e o nosso é o touro: o touro com muito sol, ar de dia santo, água fresca, e foguetes... Mas sabe o Sr. Salcede qual é a vantagem da tourada? É ser uma grande escola de força, de coragem e de destreza... Em Portugal não há instituição que tenha uma importância igual à tourada de curiosos. E acredite uma coisa: é que se nesta triste geração moderna ainda há em Lisboa uns rapazes com certo músculo, a espinha direita, e capazes de dar um bom soco, deve-se isso ao touro e à tourada de curiosos...
O marquês entusiasmado bateu as palmas. Aquilo é que era falar! Aquilo é que era dar a filosofia do touro! Está claro que a tourada era uma grande educação física! E havia imbecis que falavam em acabar com os touros! Oh, estúpidos, acabais então com a coragem portuguesa!...

Eça de Queirós in «Os Maias», 1888.

Maria do Casal


Maria do Casal, matrona de Venerável memória: Por morte de seu marido, gastou o resto da vida em devotas peregrinações a Jerusalém e aos Santuários de Itália, que visitou repetidas vezes. Morreu santissimamente na Cidade de Assis, pátria de São Francisco e Santa Clara, aos quais venerava com terníssima devoção: Foi seu feliz trânsito neste dia [30 de Junho], ano de 1565.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio


Aprovamos, louvamos e corroboramos, com o patrocínio do presente escrito, os Documentos e Exercícios mencionados, e todas e cada uma das coisas neles contidas, com a Nossa Autoridade, a teor das presentes Letras, e com Nossa Ciência certa; exortamos muito em Nosso Senhor a todos e cada um dos Fiéis em Cristo, de ambos os sexos, em qualquer lugar do mundo onde se encontrem, a que usem tão piedosos Documentos e Exercícios, e queiram devotamente com eles instruir-se.

Papa Paulo III in breve «Pastoralis Officii», 31 de Julho de 1548.

Beatas Sancha, Mafalda e Teresa


Filhas de D. Sancho I, desde tenra idade deram provas de um entranhado amor a Jesus Cristo. As duas primeiras, escolhendo-O como celeste Esposo, consagraram-Lhe a sua virgindade ao tomarem o hábito das monjas cistercienses. B. Teresa seguiu-lhes o exemplo após a morte do marido, Afonso IX de Leão, ao professar na Religião de Cister, no mosteiro de Lorvão. O culto destas Princesas, muito antigo em Portugal, foi confirmado pelos Papas Clemente XI e Pio VII.

Fonte: «Missal Romano Quotidiano», 1963.

A Rainha Santa Tareja


Santa Tareja [ou Teresa], Infante de Portugal, Rainha de Leão, a primeira das filhas d'el-Rei Dom Sancho I e da Rainha Dona Dulce, casou com Dom Afonso IX, Rei de Leão, de quem teve o Infante Dom Fernando, Príncipe de grandes esperanças, que a morte cortou em flor, e as Infantes Dona Sancha e Dona Dulce, que depois morreram castíssimas e santíssimas virgens; dissolveu-se o matrimónio de sua mãe, por causa do parentesco, e retirada a Portugal, meteu debaixo dos pés as pompas e grandezas do mundo, e vestiu o hábito Cisterciense no Mosteiro de Lorvão: Ali se entregou toda aos exercícios de devoção e piedade: Em vida, e depois da morte, resplandeceu em milagres. Jaz na Igreja do mesmo Mosteiro: Foi seu glorioso trânsito neste dia [17 de Junho], ano de 1250. O Papa Clemente XI lhe confirmou o culto de Beata por Bula de 23 de Dezembro de 1705.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Émile Zola no Index


As obras de Zola acabam de ser condenadas por um decreto da Sagrada Congregação do Index. – Portanto, sem licença de Roma, a ninguém é lícito ler, ter ou emprestar estas obras. Quem as tiver, não tem outro fim a dar-lhes senão as chamas, se o fogo as quiser queimar.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 1º Ano, Nº 2, Fevereiro de 1895.

10 de Junho: Santo Anjo Custódio de Portugal


Oração colecta da Missa do Santo Anjo de Portugal:

Ó Deus omnipotente e eterno, que, por inefável providência Vossa, deputaste a cada Nação o seu Anjo custódio, concedei, Vo-lo pedimos, que, pelas orações e patrocínio do Anjo custódio da nossa Nação, sejamos para sempre livres de toda a adversidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que sendo Deus, con'Vosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo. Ámen.

Fonte: «Missal Romano Quotidiano», 1963.

Venerável Padre José de Anchieta


O Venerável Padre José de Anchieta da Companhia de Jesus, novo Xavier da América Portuguesa. Naquele novo Mundo, se aplicou com desvelo incansável à conversão dos Gentios, acompanhando esta grande obra com raras e estupendas maravilhas. Obedeciam ao império da sua voz as feras, as aves, os peixes, as nuvens, os elementos. Ao toque da sua mão, ou da sua roupeta, fugiam as enfermidades, como as sombras da luz. Por vezes foi visto ao mesmo tempo em diversos lugares. Outras se fazia invisível, penetrava os segredos dos corações, sabia os sucessos a muitas léguas de distância do mesmo modo com que acabavam de suceder, e predizia com certeza infalível os futuros. Chorou amargamente na América a perda d'el-Rei Dom Sebastião, no mesmo dia que esta sucedeu na África [4 de Agosto de 1578]. Multiplicava as coisas que servem ao sustento, ou as convertia em outras de espécie diferente, em benefício dos pobres e dos enfermos. Merecia estes favores do Céu com uma vida inocentíssima, esmaltada de todas as virtudes em grau heróico. Ardia em vivas chamas de amor de Deus, e em desejos inflamadíssimos da salvação das almas, singularmente dos seus Gentios do Brasil: Por eles (como o Sol) andava em contínuo movimento, discorrendo sempre a várias partes daquele vastíssimo Sertão, cujos fins se ignoram até agora, vencendo invencíveis dificuldades, sofrendo imensos trabalhos, convertia e baptizava almas sem número, sendo uma nova maravilha, que pudesse aturar tanto, um corpo fraco de compleição, e atenuado com penitências: Mas o ardor da Caridade animava o débil da natureza. Assim perseverou quarenta e quatro anos, e aos sessenta e quatro de sua idade, neste dia [9 de Junho], ano de 1597, cheio de heróicas virtudes e altos merecimentos, acabou felicissimamente a carreira mortal. Jaz sepultado no Colégio da Baía. Compôs nos Idiomas Latino, Português, Castelhano, e Brasílico, muitos versos a vários assumptos de piedade e devoção. Entre todos, é muito célebre a vida de Nossa Senhora em Poema elegíaco, por estilo não menos suave que elegante.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

A tolerância e o comércio


A tolerância, dizem os Iluminados, enriqueceu o comércio e faz florescer o Estado. Estão enganados, lhes respondo eu, e estupidamente enganados. O que por meio do comércio enriquece o Estado são as próvidas ordenações, a sagaz perícia, a indústria laboriosa, e a economia prudente, a boa-fé incorrupta, a abundância dos géneros, e das manufacturas: eis aqui o que faz florescer o Estado pelo comércio, e não a tolerância de toda a Religião e irreligião. Viram-se Estados tolerantes sem comércio, e Estados intolerantes de grande comércio e riquezas; baste Portugal para exemplo, e houve Estados em que a tolerância contribuiu para empobrecer os domésticos e enriquecer os estranhos. Se para o comércio mais florescente é precisa alguma tolerância, é a tolerância de outra Religião, e não a tolerância da irreligião, e a gente útil para o comércio não são os Doutores do Epicurismo e do Ateísmo, são homens a quem basta a tranquilidade na crença em que foram educados, porque eles em seus tráficos também se não embaraçam com a crença dos outros. Aqui podia ter lugar a questão sobre o negócio dos Livros, que tão recomendado tem sido pelos Iluminados. Direi a este respeito uma palavra só: os Livros são para a alma o que são os alimentos para o corpo; é justo que haja abundância ou fartura de uns e de outros. Vigia-se com cem olhos para que sejam são os alimentos que sustentam o corpo, parece que também deve haver algum cuidado que não sejam pestilentes os alimentos da alma. Não são os Iluminados os que devem dar Leis a este respeito; isto toca a uma prudente e religiosa política; esta deve ordenar as coisas de tal maneira que o comércio aproveite sem que o Cristianismo padeça; nem se estraguem os bons costumes que são mais proveitosos à República [= coisa pública, Estado] que todos os tráficos.

Pe. José Agostinho de Macedo in «Refutação dos Princípios Metafísicos e Morais dos Pedreiros Livres Iluminados», 1816.

Adágios portugueses sobre o mês de Junho


Em Junho foice em punho.
Feno alto ou baixo, em Junho é segado.
Junho, Julho e Agosto, senhora não sou vosso.

Fonte: «Vocabulário Português e Latino», Tomo IV, 1713.

A Maçonaria odeia Joana d'Arc


A heroína de sua Pátria, a quem a França deve tantos sacrifícios, é detestada pela Maçonaria, porque foi uma santa e porque foi patriota. A Maçonaria nem é santa, nem patriota. Capaz de cravar um punhal no coração de seu irmão e concidadão, não se dedigna de abraçar ainda no campo de batalha, um inimigo que trame contra a independência e liberdade de sua Pátria, quando lhe fareje a insígnia maçónica.
Quando os filhos da França sentiram em suas veias escaldar-lhe o sangue do entusiasmo e da gratidão para com sua libertadora, e a Nação pediu em milhares de assinaturas a consagração de uma festa nacional a Joana d'Arc, a Maçonaria pôs-se logo em campo, e um inimigo da pátria de Clóvis e S. Luís, o pontífice maçon Lemmi, passou uma circular em que ordenava que atacassem sem descanso, nem intermitência, a festa da libertadora de França.
Este ano o grito de guerra já foi de novo lançado pela loja La Clémente Amitié que precedentemente se houvera posto à testa do movimento.
O Governo, que é dos apaniguados das lojas, presta-lhes também seu dócil apoio.
Corre já que o Ministério enviou instruções secretas aos chefes de serviço de seus respectivos departamentos, para que nem os oficiais do Exército, nem militares, concorressem oficialmente às festas que o povo francês tenciona celebrar em honra da grande heroína.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 19, Julho de 1896.