Propriedade e Bens Nacionais


Propriedade – Vocábulo ad libitum. Entre os Republicanos (enquanto estão roubando), não tem nem uso, nem significação. Mas quando têm já guardados os roubos, oh! então já é outra coisa: Propriedade é um nome sagrado. O melhor que tem é que, como os roubados e os ladrões se sucedem uns aos outros continuamente, e muitas vezes sem interrupção, se transformam os segundos nos primeiros, não pode deixar de ser que este Vocábulo esteja num pleito eterno entre os Cidadãos felizes das Repúblicas Democráticas.
(...)
Bens Nacionais – Termo inventado em Língua Democrática para fazer contraste ao vocábulo Propriedade. A violação das propriedades era outrora na Sociedade o emprego dos homens mais viciosos e corrompidos, que nela viviam. Os bens adquiridos por este modo se chamavam bens roubados; e o que os adquiria se chamava ladrão. As Leis deviam não levar muito a bem semelhantes aquisições e deviam o quer que seja a respeito da forca e galés. Mas nos tempos presentes, onde governam os Republicanos, passou isto a ser negócio de Nação, e portanto mudou-se-lhe justamente o nome; e os bens roubados, em termos mais polidos, se chamam bens nacionais. O mais curioso é que se lhes dá este nome, ainda antes de se roubarem aos Proprietários.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 5, 1832.

Eleições Populares


Eleições Populares – Termo ilusório. O Povo tem direito de eleger seus Representantes. O Povo não pode errar nesta eleição, etc. Pois veja Vm. aqui que o Povo de Bolonha, Modena e Ferrara, elegeu os seus, porém não elegeu ateus, malvados, nem franchinotes: ei-lo aqui subitamente declarado incapaz de eleger. Anulam-se as eleições feitas [*], e pelo bem do mesmo Povo, que não sabe o que se faz, tem a tirania maçónica que tomar o improbo trabalho de fazer umas novas e verdadeiras eleições à democrática. – Porém, como é isso! O Povo é que tem o direito de eleger. – Optimamente: porém os tiranos têm o de cassar, e anular as eleições, que o Povo faz. – Senhor, que não concorda a dança com o pandeiro. – Valha-te o diabo por agoureiro! Se não concorda, a Filosofia democrática sabe o segredo de fazer concordar. – Portanto, em resumo de contas, a Soberania do Povo consiste em eleger seus Deputados, e vê-los logo depois anulados, desterrados, e metidos em cárceres? Pois então claro fica e demonstrado que a Soberania do Povo democrático é uma coisa bastante irrisória e fantástica.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 2, 1831.


[*] Ainda hoje, na democrática "União Europeia", se anulam eleições. Parece que o Povo na Roménia votou mal.

Virgem Santíssima nas catacumbas de Roma


Rossi, arqueológo célebre e autor da Roma Subterrânea, acompanhava certo dia, um sábio professor da Universidade de Oxford, nas catacumbas de Santa Priscila.
Chegando a uma sala subterrânea, cujo tecto era adornado de pinturas admiravelmente conservadas, perguntou o sábio Rossi ao estrangeiro:
Sabereis fixar-me, aproximadamente, a data desta pintura?
Sei a de Pompeia, respondeu o doutor inglês, estudei-lhe seus frescos; por eles julgo ser esta a pintura de igual época.
Tendes razão. As pinturas de Pompeia e as das catacumbas são irmãs, e, por conseguinte, temos diante de nós, um monumento do primeiro século.
Ainda falava e já baixava a luz que alumiava, para mostrar ao doutor protestante, na parede lateral, uma delicada pintura, representando a Virgem Santíssima com o Menino Jesus em seus braços.
Olhai, lhe disse Rossi, reconheceis esta imagem?
É o retrato de Maria, respondeu o protestante.
Muito bem! Há três meses, continuou Rossi, estava esta galeria inteiramente obstruída de areia, uso praticado pelos primeiros cristãos, depois de haverem enchido todos os sepulcros de alguma galeria. Temos, pois, diante de nós, um monumento da Igreja primitiva, que testemunha a antiguidade do culto à Virgem Santíssima.
O doutor protestante ficou muito tempo silencioso; examinando detidamente à luz de seu archote uma bela pintura recentemente desenterrada.
Por fim, levantando a cabeça, quebrou o silêncio com estas breves palavras, que encerram todas as peripécias de uma luta interior travada no íntimo da alma:
'Antiqua superstitionum semina' – Velhas sementes de superstições.
Melhor seria, lhe tornou Rossi, que dissésseis com S. Cipriano: 'Tenebrae sole lucidiores' – Ó trevas mais luminosas que o sol!
O golpe foi fundo, porque a prova era convincente, e o inglês não ousou replicar.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 13, Janeiro de 1896.

Venerável Madre Leocádia da Conceição


A Venerável Madre Leocádia da Conceição, Religiosa insigne em virtudes, benemérita filha do Seráfico Patriarca São Francisco, cuja santa Regra professou no Convento de Monchique da Cidade do Porto: A sua vida foi um perfeitíssimo holocausto aos olhos de Deus, uma perene admiração aos dos homens, e uma singular ideia da perfeição Evangélica e Seráfica das suas Religiosas: Correspondeu-lhe o Céu com favores e prerrogativas singulares: Logrou o Dom da Profecia, e o conhecimento das coisas ocultas, e dos segredos do coração; No mesmo dia em que se conseguiu a vitória de Viena de Áustria, a publicou no seu Convento: O mesmo lhe havia sucedido, quando os Portugueses restauraram a Cidade de Évora: Dava milagrosa saúde aos enfermos, e até os irracionais lhe rendiam obediências; Foi, enfim, na aceitação universal de todos os que a trataram, um raro prodígio da Divina Graça. Morreu santissimamente neste dia [1 de Dezembro], ano de 1686, com cento e quatro de idade, e noventa de Religião.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Ajustam-se pazes entre Portugal e Castela


Cortada Castela de tantos golpes, esvaida de tanto sangue que deixou na memorável batalha de Aljubarrota, e em outras que se lhe seguiram, em que sempre foi sangrada e vencida pelo ferro e braço Português; Vendo-se sem as praças e terras que ocupava em Portugal, e que já lhe tomávamos as suas, e fazíamos a guerra dentro em sua própria casa; procurou El-Rei Dom João I de Castela fazer tréguas com El-Rei Dom João I de Portugal, e este lhas concedeu por três anos com condições de honra e vantagem nossa, e se assinou o tratado neste dia [29 de Novembro], ano de 1389. Morto depois o de Castela desgraçadamente, seu filho Dom Henrique, que lhe sucedeu, ratificou as mesmas tréguas no ano de 1393, e as prorrogou por quinze anos. Faltando, porém, à religiosa observância delas, lhe tomámos em represália a Cidade de Badajoz, com que se renovaram as guerras, as quais se concluíram com as pazes de Ayllón de 1411.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Entra Duarte Coelho no Reino de Sião


No mesmo dia [27 de Novembro], ano de 1516, chegou Duarte Coelho de Albuquerque, ilustre Capitão Português, ao Reino de Sião [hoje Tailândia], aonde assentou paz e comércio com aquele poderoso Rei, e arvorou um Padrão com as Armas Reais de Portugal, no lugar mais notável da Cidade Hudiá, que é a Corte e Capital daquele Reino, ou Império, o qual se dilata por espaço de mais de trezentas e trinta léguas, e é abundantíssimo de frutos e riquezas: Pode o Rei pôr em campo um milhão de Soldados, e só na Cidade Hudiá assistem alistados continuamente cinquenta mil.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Bandeiras da rebelião


[É] uma facção, que odiando a glória e honra da Nação, mudou as Bandeiras, o Pavilhão Português, com o qual fizemos tremer a África, a Ásia, e América; é uma facção tão anti-nacional, que substitui aquele Estandarte sempre vencedor, sempre glorioso, por outro, que não sendo o Português, é o da rebelião.

Fonte: «Gazeta de Lisboa», Nº 142, 16 de Junho de 1832.

Conquista e destruição de Repelim, na Índia


No mesmo dia [22 de Novembro], ano de 1536, havendo desembarcado Martim Afonso de Sousa com quase mil homens, os mais deles escolhidos, na Ilha de Repelim, não obstante a valerosa resistência que lhe fez o Rei da mesma Ilha, o desbaratou, e retirando-se para a Cidade, onde tinha seis mil homens de armas, foi entrada pelos nossos, posto o Rei em fugida com quantos a defendiam; Custou-nos esta vitória doze homens ordinários e dois Cavaleiros. A Cidade, depois de saqueada, foi reduzida a cinzas.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Abusos


Abusos – A própria noção etimológica da palavra assaz os condena, porém no Dicionário Maçónico tem uma significação amplíssima, e nós podemos estar lembrados de que o melhor da nossa legislação parecia abuso e musgo aos nossos Pseudo-reformadores. É certo que na prática dos deveres Cristãos, se podem introduzir facilmente abusos, que é necessário corrigir; porém os abusos por este lado estendem-se no Dicionário dos Pedreiros até às coisas mais santas e obrigatórias, que segundo eles devem entrar neste número, e por isso eles tratam de abuso, por exemplo, a obrigação de nos confessarmos ao menos uma vez cada ano, e para eles um homem desabusado, é um homem que despreza todas as leis da Igreja, e vive isento de prejuízos e fanatismo, que hão-de explicar-se nos respectivos lugares.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo: Prospecto de um Dicionário das Palavras e Frases Maçónicas», Nº 1, 1824.

Bens Nacionais


Bens Nacionais – São em frase Pedreiral todos os que pertencem ao Rei, e à Rainha, aos Infantes, aos Fidalgos, e ao Clero, e depois que todos estes ficassem sumidos pelas mãos dos seus fiéis administradores, seguia-se declarar nacionais todos os bens dos Negociantes e Proprietários, e davam-se cartas patentes aos Sans-culottes Lusitanos, para darem um saque geral, como se praticou no Filosófico e ilustrado reino da França. Quem folgar de ver decifrada esta maranha Pedreiral, consulte os Números 14 e 17 do Punhal dos Corcundas, onde poderá saciar a sua curiosidade.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo: Prospecto de um Dicionário das Palavras e Frases Maçónicas», Nº 1, 1824.

Faz lembrar o camaleão


Dizem que o camaleão toma todas as cores. O governo da República francesa faz lembrar o tal bicharoco: é judeu, protestante, muçulmano... enfim, tudo o que a gente quiser. Agora, diz o Réveil des Vosges, deu 5000 francos aos judeus de Senones, para fazerem as reuniões da sua seita. Provavelmente é para recompensar os serviços de alta traição que têm levado a efeito os refolhados judeus.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1896.

Protestante sem réplica


Declamava um protestante contra as imagens dos santos, alegando textos do Antigo Testamento, que as proibiam. Achava-se presente um velho sapateiro, que poucos dias antes ouvira um sermão sobre o assunto, e tão bem o escutara, que nesta ocasião disse mais do que podia saber!
«Senhor pastor, visto que tem tanta devoção pelo Antigo Testamento, que pretende obrigar os cristãos ao que só foi mandado aos judeus, porque não aplica a si a lei que proíbe comer carne de porco, V. que é tão afeiçoado a um bocado de morcela e de presunto, como ao sumo da parreira?»
Não teve o pastor que responder, e embora tivesse, não seria ouvido de ninguém, pelo barulho das risadas que se armou no auditório.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1896.

Erecção de quatro Bispados


Neste dia [3 de Novembro], ano de 1534, à instância d’el-Rei Dom João III de Portugal, o Papa Paulo III erigiu em Catedrais a Cidade de Goa, de que foi primeiro Bispo Dom Francisco de Mello; a de Angra, de que foi primeiro Bispo Dom Agostinho Ribeiro, Cónego secular da Congregação de São João Evangelista; a de Cabo Verde, de que foi primeiro Bispo Dom Brás Neto; e a de São Tomé em África, de que foi primeiro Bispo Dom Diogo Ortiz de Vilhegas. Todos quatro sufragâneos ao Arcebispo do Funchal, erecto Metropolitano e Primaz do Oriente, pelo mesmo Papa, preeminência que só teve o seu primeiro Arcebispo Dom Martinho de Portugal.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Pão por Deus


Na vila de Alpedriz, minha terra natal, é costume, assim como talvez em todo o nosso Reino, saírem os rapazes, pela festa de Todos os Santos, a pedir a oferta (chamada aqui pão por Deus) que os lavradores abastados costumam então fazer-lhes, de merendeiras, tremoços, maçãs, nozes, ou outra qualquer fruta, ou coisa semelhante, própria para contentar a rapaziada miúda. Até aqui não temos nada de singular em Alpedriz; mas em que a temos, e não pouco, é no modo porque os rapazes aqui formulam a sua petição, e na praga que dirigem aos lavradores que lhes recusam este mimo, a que se julgam com direito.

PETIÇÃO

Pão, pão por Deus
À mangaróla;
Encham-me o saco,
E vou-me embora.

PRAGA

O gorgulho, gorgulhóte
Lhe dê no pote,
E lhe não deixe farelo
Nem farelóte.

Teotónio José de Figueiredo Costa in «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1861», 1860.

Diálogo de dois portugueses sobre o "Halloween"


Um diálogo imaginado:

– Então, amigo, estás pronto para celebrar o Halloween?
– Deus me livre! Sou católico e recuso-me a participar nessas bruxarias satânicas!
– Ehh! Calma! O Halloween não é assim como dizes.
– Como não?! O Halloween é o Dia das Bruxas!
– Nada disso. Halloween é apenas a véspera de Todos-os-Santos.
– Acho que deves estar a fazer confusão.
– Não há confusão nenhuma. "Halloween" é só uma palavra inglesa para a vigília ou véspera de Todos-os-Santos, da mesma forma que "Christmas" significa Natal e "Easter" significa Páscoa.
– Hum... Não sei se será assim...
– É como te digo, o termo "Halloween" é inglês antigo e vem da contracção de "All Hallows Evening", que se traduz literalmente por "Véspera de Todos-os-Santos".
– Mas isso será apenas uma questão semântica.
– Não é apenas um pormenor de semântica; é a realidade essencial. A origem e a substância da véspera de Todos-os-Santos é católica. A festa é católica. Foi fundada pela Igreja e a Igreja nunca a deixou de celebrar.
– Mas se Halloween é a designação inglesa... então não deve ser católico.
– O dia e a véspera de Todos-os-Santos sempre foram católicos, independentemente do rompimento dos anglicanos com a Igreja de Cristo. O ofício litúrgico de Halloween vem no Breviário Romano para os católicos de língua inglesa. Refiro concretamente uma edição de 1908, insuspeita de qualquer inovação pós-Conciliar.
– De qualquer das formas, isso são coisas de anglófonos. Nós somos portugueses. Não podemos favorecer a importação de modas estrangeiras.
– Os portugueses, como católicos, sempre celebraram a véspera de Todos-os-Santos. É disso que se trata. Mas concordo que não devemos importar costumes estrangeiros, nem designações estrangeiras para uma festa católica que sempre celebrámos.
– Mas o chamado Halloween tem coisas pouco católicas, não achas?
– Suponho que te estejas a referir a certos festejos mundanos de importação norte-americana, a que incorrectamente identificam como "Halloween".
– Sim, é essa festa das bruxas que associam ao Halloween. É horrível.
– Não conheço a razão desses costumes profanos, que são estranhos a Portugal. Mas se hoje a sociedade não é católica, não podes esperar que celebre a festa de forma católica. Esse é um drama universal. O mesmo se passa com o Natal ou a Páscoa. Contudo, o Natal não deixa de ser Natal, porque o mundo moderno celebra um pseudo-Natal em vez do verdadeiro Natal. Halloween é apenas véspera de Todos-os-Santos em língua inglesa, mesmo que hoje lhe dêem uma aparência de outra coisa qualquer.
– Certo, mas com o Natal e a Páscoa a coisa não é tão macabra...
– Quem sabe, porém, se não serão mais enganadores para as almas mais bem-intencionadas. O pior erro é aquele que tem maior aparência de verdade.
– Sim, mas os modernos festejos de Halloween são claramente diabólicos. Vê-se um elogio ao Mal.
– São de facto costumes estranhos a Portugal, como já disse, mas lembra-te que no nosso Entrudo também há figuras diabólicas que assustam pessoas pelas ruas e que depois são simbolicamente queimadas na véspera da Quarta-Feira de Cinzas – a queima do Entrudo – dando-se início à Quaresma. Ou seja, há todo um significado espiritual nessas diabruras que antecedem a purificação quaresmal. É possível que antigamente, nos países de tradição inglesa, essas demostrações na véspera de Todos-os-Santos tivessem um significado religioso transcendente, como tem o nosso tradicional Entrudo. Mas desvinculados do Catolicismo, esses costumes perdem sentido e corrompem-se. A sociedade perdeu a noção religiosa e transcendente, ficando apenas na superfície uma prática meramente humana, agravada pela corrupção moral e intelectual.
– Por isso mesmo não podemos defender esses festejos ditos de "Halloween".
– Nem eu os defendo. Não são da nossa Tradição. E essas modas só entraram em Portugal nos últimos anos por influência mediática e cultural norte-americana.
– Inclusive o dia 31 de Outubro é conhecido por se fazerem muitos sacrilégios e profanações.
– Mais uma razão para não deixarmos que uma festa católica caia nas mãos do Inimigo. Temos obrigação de defendê-la e celebrá-la correctamente.
– Mas como então fazer isso?
– Como sempre os católicos celebraram as vésperas dos dias santos. Com oração, jejum e abstinência, para mortificar os sentidos e celebrar a festa de forma mais piedosa. Depois também há aqueles bons costumes portugueses, como as crianças pedirem o pão-por-Deus pelas ruas, já no dia de Todos-os-Santos.
– Sim, entendo e concordo com o que dizes. Mas agora terei de ir. Obrigado e até uma próxima.
– De nada. Até qualquer dia, quando Deus quiser.

Bizarro sucesso nas portas de Marrocos


Diogo Lopes, Alcaide de Safim, com quatrocentos e trinta e sete de cavalo, chegou neste dia [30 de Outubro], ignoramos o ano, a uns aduares pouco mais de uma légua de Marrocos [Marraquexe], onde matou muitos Mouros, cativou cinquenta e três, arrebanhou dez mil ovelhas, e trezentos e trinta camelos. Posta em seguro esta preza, foram alguns dos nossos Cavaleiros bater com os cotos das lanças nas portas de Marrocos, bradando: Viva El-Rei Dom Manuel Nosso Senhor. Foi tal o susto da Cidade, que o seu Rei em pessoa, com a maior parte da sua gente, saiu aos nossos Cavaleiros, os quais se defenderam de maneira, que matando quatro dos Mouros, mais bizarros, que se adiantaram a acometer os nossos, se recolheram estes aos Aduares, onde os esperavam os mais, e daí a Safim com a referida preza, onde foi muito celebrado este sucesso.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.