Os três estádios de vida do Homem


Para Aristóteles, as três vidas típicas do Homem são: a vida pueril, a vida política e a vida especulativa. A primeira é a que tem por fim o prazer; a segunda a honra e a glória; e a terceira a contemplação. É como se disséssemos: a vida do divertido; a vida do homem de acção; e a vida do sábio.
Com o Cristianismo, temos que a vida estética é dominada pelo prazer; a vida ética está sob o signo da luta e da vitória; e a vida religiosa é regida pelo sofrimento.

O Estádio Estético
A vida estética é a dos que vivem na superfície das coisas; é a vida dominada pelo prazer, ainda que seja o prazer estético. É a vida no plano das sensações, das imagens, do sentimentalismo, da vida tangueira. Não é que não tenham razão e raciocínio, mas a razão está num nível rebaixado.
É de realçar que se pode ser muito religioso, muito devoto, e também muito moral, muito correcto, e viver no plano estético. O plano estético não designa somente o libertino vulgar, o simples estouvado ou o farrista trivial: é uma categoria filosófica que tem valor universal.
O viver no plano estético leva a estabelecer-se nas aparências, na exterioridade; a imprudência, a estupidez, a irresponsabilidade, a amoralidade, a imundice, a estultícia, o sentimentalismo, a grosseria... Para curá-las, há que subir ao plano moral, através de um salto.

O Estádio Ético
A vida ética é a que está dirigida à luta e à vitória, à glória, como diz Aristóteles.
O homem ético é aquele que está possuído pelo sentimento de justiça e de ordem: o homem aderido à moral.
Para Aristóteles, o grande estadista é o tipo desta vida; que por isso a chama de "vida política"; é uma grande vida, mas não é a superior.
O grande estadista é o homem da paixão ética, da luta, da vitória no campo da moral, quer dizer, no campo da alma dos homens, das multidões e das nações.
É um homem de costumes estritos ou correctos, de ideias conservadoras, de sentimentos moderados; não propenso ao êxtase, mas propenso à solenidade. É o homem irrepreensível, pelo menos ninguém conseguiu manchá-lo; nem ele permitirá que ninguém o manche; tem o sentimento e o cuidado da sua honra; justamente por isso Aristóteles põe a glória como o fim desta classe de vida. Para o homem ético, as palavras vício e virtude têm um valor terrível; a honra não é uma palavra vã.
A honra: chegará um momento difícil na sua vida (que ele fará todo o possível para que não chegue, mas que pode chegar) em que ele abandonará o seu posto para não manchar a sua honra.
Este tipo é o que constitui – ou deveria constituir – a média da vida humana, o tecido geral da sociedade, ou em último caso, o que chamam de classes dirigentes.
Em suma, os que devem dirigir necessitam da moral.

O Estádio Religioso
É, para Aristóteles, a vida contemplativa e está sob o signo da contemplação; Kierkegaard disse, severamente, que está sob o signo do sofrimento.
Se Kierkegaard disse que o religioso está sob o signo do sofrimento, não disse como o pérfido apóstata, Renan, que "a verdade é triste", nem a tristeza de Kierkegaard é a desesperação de Lutero.
Se a religião está sob o signo do sofrimento, quer dizer que o homem que está no plano religioso, é o homem que viu, de uma vez para sempre, a vida cara a cara – e também a morte –; e tendo aceitado a vida, e tendo aceitado a morte, colocou-se de imediato no centro da realidade e em relação directa com o divino.
Ao homem religioso, este mundo aparece-lhe como um espectáculo – tal como ao homem estético.
A vida aparece-lhe como uma luta – tal como ao homem ético.
Mas aparece-lhe como uma luta sem vitória – quer dizer, como um sofrimento, e isso o diferencia dos outros dois homens.
Além disso, ele sente-se débil, enquanto os outros se sentem sólidos e seguros; eles sentem-se num mundo sólido, em terra firme; ele está em equilibro instável. Às duas por três, cai num abismo, do qual sai bracejando arduamente; mas quando chega à superfície, dá-se conta que as ondas em que vive são a realidade da vida; e que a terra firme dos outros dois é pura aparência.
Por isso, pode contemplar esses dois mundos dos outros – o mundo do sensível e o mundo da moral – com um pouco de "humor".
E isto, e nada mais, é a "tristeza cristã". Ele, que está em relação directa com Deus, está em relação directa com uma coisa maior do que o homem: uma coisa tremenda.

Pe. Juan Carlos Ceriani in «Sermão de Domingo de Sexagésima», 7 de Fevereiro de 2021.

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