Data memorável nos fastos da iniquidade é o dia 20 de Setembro de 1870!
O triunfo da revolução; a ostentação da mais horrorosa das impiedades; a perpetração de um inaudito sacrilégio; – eis o que significa essa data nefasta, que manchou a história de um povo, que por tantos títulos devia ser piedoso, virtuoso e santo!
A conculcação dos mais sagrados direitos; a perseguição infamíssima do mais cru dos despotismos contra inocentes e indefesos; a revolta dos filhos contra um pai, que era todo amor, todo bondade, todo carinho para com seus filhos; – é isso que nos faz lembrar o dia 20 de Setembro de 1870!
As ofensas, insultos, doestos, arbitrariedades com a pessoa que mais presa toda a cristandade; que é o sustentáculo de seus irmãos, o arrimo de seus filhos, o guia de todos os cristãos; – eis o que nos trás à memória o dia 20 de Setembro de 1870!
E nós, os católicos, havemos de calar-nos, quando a impiedade tripodia em honra dessa memorável infâmia?
E a Voz de S. António calar-se-á quando o Vigário de Jesus Cristo é insultado, quando a verdade é sem pejo conculcada, quando são espezinhados os sacrossantos foros da justiça e do direito?
Que são, para nós os católicos, esses festejos que a revolução está celebrando na veneranda cidade dos Papas, depois que o inexorável relógio do tempo marcou sobre eles um quarto de século? Que é que eles são? Um insulto, que devia fazer subir o rubor às faces de todos os filhos da Igreja, porque a todos eles é dirigido; uma infâmia que devia excitar em todos os membros da Cristandade um grito de indignação; um desafio que devia despertar do seu torpor todas as nações católicas.
E os ecos da Revolução e do Inferno repercutiram-se pelos quebrados do campo social, sem que um som sequer viesse abafar o seu medonho fragor!
Vergonha para a sociedade actual, em nome da justiça e do direito!
E qual é a razão por que os Estados católicos viram com indiferença inqualificável o mais sacrílego dos atentados; e por que não bradam eles, ao menos agora, aos partidários de Lucifer, e empunhando a espada do direito e da justiça: – Parai, não ultrajeis nosso Pai!
Custa dizê-lo, mas diga-se porque é verdade, o sentimento católico deixou de ser a mola real das sociedades cristãs; o sangue que gira pela veias sociais está depauperado com a enfermidade do indiferentismo e corroído com a gangrena da descrença; sintomas horríveis a que deu origem o vírus envenenado do liberalismo.
Por isso se perpetrou esse horrendo parricídio que há-se ser a nódoa mais vergonhosa do século XIX, e que a História imparcial há-de verberar, quando a pena do escritor não for peada com as algemas do respeito humano.
A nós não nos compete ir com a espada na mão reivindicar os direitos do nosso supremos Pai espiritual, isso não; mas ao menos, resta-nos a consolação de, com a liberdade dos filhos de Deus, exprimir desassombradamente nossos sentimentos de católicos.
Por isso, em nome de todos os assinantes da Voz de S. António, de seus numerosos amigos e de todos os membros da Pia União em Portugal, que decerto comungam nas nossas ideias; nós levantamos aqui um solene protesto contra os insultos que se estão perpetrando em Roma e que vão ferir e amargurar o coração de nosso Pai espiritual – Leão XIII.
Pela boca de S. António, brada a sua Voz, como outrora no século XII contra o tirano Frederico Barba-Ruiva e contra o bárbaro e cruel Ezelino bradava o nosso Santo Taumaturgo, ao defender intrépido os direitos do Pontífice Romano:
– Viva Leão XIII, Papa e Rei!
Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», Nº 9, Setembro de 1895.
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