A fraqueza crónica de um sistema democrático de governo, em
oposição à ocasional, parece ser proporcional ao grau da sua democratização. Os
mais poderosos e estáveis estados democráticos são aqueles onde os princípios
da democracia foram menos lógica e consistentemente aplicados. Assim, um
parlamento eleito segundo um sistema de representação proporcional é um
parlamento verdadeiramente democrático. Mas é também, na maioria dos casos, um
instrumento não de governo mas de anarquia. A representação proporcional
garante que todos os sectores da opinião estarão representados na assembleia. É
o ideal da democracia cumprido. Infelizmente, a multiplicação de pequenos
grupos dentro do parlamento torna impossível a formação de um governo estável e
forte.
Nas assembleias proporcionalmente eleitas os governos têm
geralmente de confiar numa maioria compósita. Têm de comprar o apoio de
pequenos grupos com uma distribuição de favores mais ou menos corrupta, e como
nunca conseguem dar o suficiente ficam sujeitos a ser derrotados em qualquer
altura. (...) Encontram-se governos democráticos estáveis em países onde
as minorias, por muito grandes que sejam, não estão representadas, e onde
nenhum candidato que não pertença a um dos grandes partidos terá a mais leve
possibilidade de ser eleito. Os parlamentos em tais países não são de modo
nenhum representativos do povo. São totalmente não democráticos. Mas possuem um
grande mérito, que compensa todos os seus defeitos: podem formar governos suficientemente
fortes para governar.
Aldous
Huxley in «Sobre a Democracia e Outros Estudos».
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