A vulgaridade como direito


Não se trata de o homem-massa ser estúpido. Pelo contrário, o actual é mais esperto, tem mais capacidade intelectiva que o de qualquer outra época. Mas essa capacidade não lhe serve de nada; com rigor, a vaga sensação de possuí-la serve-lhe só para encerrar-se mais em si mesmo e não usá-la. Consagra de uma vez para sempre o sortido de tópicos, preconceitos, ideias-feitas ou, simplesmente, vocábulos ocos que o acaso amontoou no seu interior e, com uma audácia que só se explica pela ingenuidade, imporá onde quer que seja. É isto que no primeiro capítulo eu enunciava como característico da nossa época: não que o vulgar julgue que é excelente e não vulgar, mas que o vulgar proclame e imponha o direito da vulgaridade, ou a vulgaridade como direito.

José Ortega y Gasset in «A Rebelião das Massas».

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