O estudo objectivo da religião destes povos primitivos levou às seguintes conclusões: «Em todos os grupos étnicos de cultura primitiva existe a crença num Ser Supremo, senão entre todos com a mesma forma e força, certamente em toda a parte com a força suficiente para excluir toda a dúvida acerca da sua acção predominante» (G. SCHMIDT, Manual de História Comparada das Religiões, 1938).
A crença num Ser Supremo é claríssima em todas as tribos de pigmeus da África e da Ásia (H. BAUMANN, 1936). Até há pouco tempo, o que sabíamos da maior parte dos pigmeus da África era quase nada e tinha um conceito diverso das suas crenças religiosas; mas investigações recentes de Trilles no Gabão, de Schumacher no Ruanda, de Schebesta no Congo, puseram em evidência, com toda a clareza, a crença deles no Ser Supremo. O mesmo se pode dizer de algumas tribos africanas, como os Ajongos, Vátuas, Bagellos, Bambutos e outros; de povos primitivos do Sul, como os Bosquímanos, os habitantes da Terra do Fogo e os australianos de cultura primitiva; no círculo polar árctico, como os Samoiedos, os Coriacos e os Ainu, e numerosas tribos da América do Norte. Mas aquilo que mais surpreende, ainda, é que a ideia deste Ser Supremo é tanto mais pura, isto é, menos ofuscada de ideias de outros deuses menores, quanto mais a tribo apresenta caracteres primitivos.
Alguns primitivos, como os Fueguinos, Negritos, Bátuas, Andamaneses, afirmam que o Ser Supremo é imperceptível aos sentidos, inaferível como o vento.
Outros dão-lhe um aspecto humano, venerando, com longa barba, mas dotado de caracteres superiores ao homem; umas vezes, é resplandecente como o fogo; outras, circundado por uma auréola solar. O arco-íris, entre algumas tribos, é a fímbria do manto do Ser Supremo. Significativo é o facto de que mesmo as tribos que representam o Ser Supremo com feições humanas, quase nunca lhe atribuem mulher e filhos, achando irreverente até a pergunta se o Ser Supremo é casado.
Múltiplos e expressivos são os nomes pelos quais é designado o Ser Supremo, sempre pronunciados com respeito e em raras ocasiões; mas nunca, sem necessidade. Em muitos casos recorrem a circunlóquios ou sinais. Por exemplo: um aceno para o céu, como fazem os Juin com Daramulum e os Kulin com Bundyil.
Três grupos de nomes são mais frequentes, e precisamente os que exprimem paternidade, ou a obra criadora e a morada no céu. Os pigmeus do Ituri, os Bosquímanos e muitos outros chamavam-lhe simplesmente: pai. Os Samoiedos usavam esta invocação: meu pai Nun, meu pai celeste. Os Ainu chamavam-lhe: o Divino Construtor dos mundos. Muitas tribos norte-americanas chamavam-lhe simplesmente: o Criador, o Artífice, o Criador da Terra. Os Samoiedos: o Criador da vida.
Encontram-se outras expressões que indicam, ou a morada de Deus, como esta: Aquele que habita no alto, ou outros atributos: o Antiquíssimo, o Suporte do universo, o Grande Manitu, isto é, o Grande Espírito (Algonquinos), Gawa, o Invisível (Bosquímanos), o Omnipotente, o Vigilante, o Eterno, etc.
Já por estes nomes, que acabamos de enumerar, se revela o conceito, como se vê, altíssimo, que tinham estes povos do Ser Supremo, bastante semelhante àquele que tinham os Patriarcas do Génesis.
Mas, mesmo quando não existe um nome para exprimir os atributos de Deus, existe sempre o conceito, que exprimem recorrendo a circunlóquios. A eternidade do Ser Supremo é conhecida por quase todos os povos primitivos. A omnisciência está em estreitíssima relação com a vigilância que o Ser Supremo exerce sobre as acções morais dos homens. As tribos da Austrália sul-oriental avisam disto os jovens, tanto no rito da iniciação, como noutras ocasiões, com a advertência que o Omnisciente sabe também punir (F. GRAEBNER, 1926). Os Bátuas do Ruanda dizem claramente: nada existe mais que Imana, o Ser Supremo. Ele sabe tudo. Conhece até os pecados secretos do pensamento.
Pe. Victor Marcozzi in «Deus e a Ciência», 1957.
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