Nova teoria sobre a Igreja
52. Não estava no pensamento de Cristo constituir a Igreja em sociedade para durante uma longa série de séculos; muito ao contrário, no pensamento de Cristo, o Reino do Céu devia chegar com o fim iminente do mundo.
53. A constituição orgânica da Igreja não é imutável; mas, ao contrário, a sociedade cristã está sujeita, como a sociedade humana, a uma perpétua evolução.
54. Os dogmas, os sacramentos, a hierarquia, tanto na sua concepção como na realidade, não são mais do que interpretações do pensamento cristão e evoluções que aumentaram e aperfeiçoaram por desenvolvimentos externos o pequeno gérmen oculto no Evangelho.
55. Simão Pedro nem sequer suspeitou que lhe tivesse sido conferida a primazia na Igreja por Cristo.
56. A Igreja romana tornou-se a primeira de todas as Igrejas, não por uma disposição divina, mas por circunstâncias puramente políticas.
Evolucionismo absoluto e ilimitado
57. A Igreja mostra-se inimiga dos progressos das ciências naturais e teológicas.
58. A verdade não é mais imutável do que o homem, com o qual e pelo qual muda continuamente.
59. Cristo não ensinou um corpo de doutrina determinado, aplicável a todos os tempos e a todos os homens, mas provocou antes um movimento religioso adaptado ou podendo adaptar-se aos diversos tempos e lugares.
60. A doutrina cristã foi no começo judaica, depois, por evoluções sucessivas, tornou-se paulina, depois joanica, depois helénica e universal.
61. Pode dizer-se sem paradoxo que nenhum livro da Escritura, desde o primeiro do Génesis até ao último do Apocalipse, contém um doutrina absolutamente idêntica à que a Igreja professa sobre os mesmos assuntos, e, por consequência, que nenhuma parte da Escritura tem o mesmo sentido para o crítico e para o teólogo.
62. Os principais artigos do Símbolo dos Apóstolos não tinham, para os cristãos primitivos, a mesma significação que têm para os cristãos actuais.
63. A Igreja mostra-se incapaz de defender a moral evangélica, porque se mantém obstinadamente ligada a doutrinas imutáveis, incompatíveis com os progressos modernos.
64. O progresso das ciências exige a reforma da concepção da doutrina cristã acerca de Deus, da Criação, da Revelação, da Pessoa do Verbo e da Redenção.
65. O catolicismo actual não pode adaptar-se à verdadeira ciência, a não ser que se transforme em cristianismo não dogmático, isto é, em protestantismo largo e liberal.
No dia seguinte, quinta-feira, 4 do mesmo mês e ano, tendo sido feito a Sua Santidade Pio X um relatório geral fiel, Sua Santidade aprovou e confirmou o decreto dos Eminentíssimos Padres e ordenou que todas e cada uma das proposições, acima mencionadas, fossem consideradas por todos como reprovadas e proscritas.
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