Um Oriental não pode admitir uma organização social que não repouse em princípios tradicionais; para um muçulmano, por exemplo, a legislação inteira não é senão uma dependência da religião. Em tempos, também assim foi no Ocidente: basta lembrarmo-nos do que foi a Cristandade na Idade Média; mas, hoje, as relações estão invertidas. Com efeito, vemos agora a religião como um simples facto social; em vez da ordem social inteira ser associada à religião, esta, contrariamente, quando ainda consentimos dar-lhe um lugar, não é mais vista senão como um qualquer dos elementos que constituem a ordem social; e quantos católicos aceitam esta forma de ver sem a menor dificuldade!
Praticamente, crentes e não crentes comportam-se quase da mesma maneira; para muitos católicos, a afirmação do sobrenatural não tem senão um valor teórico, e ficariam embaraçados se tivessem que constatar um facto miraculoso. É o que podemos chamar de um materialismo prático, um materialismo de facto; não é este mais perigoso do que o materialismo admitido, precisamente porque aqueles que por ele são atingidos não têm sequer consciência?
Praticamente, crentes e não crentes comportam-se quase da mesma maneira; para muitos católicos, a afirmação do sobrenatural não tem senão um valor teórico, e ficariam embaraçados se tivessem que constatar um facto miraculoso. É o que podemos chamar de um materialismo prático, um materialismo de facto; não é este mais perigoso do que o materialismo admitido, precisamente porque aqueles que por ele são atingidos não têm sequer consciência?
René Guénon in «Oriente e Ocidente».
Sem comentários:
Enviar um comentário