Uma perspectivação biológica do comportamento humano no nosso tempo só pode contrariar as doutrinas de repercussão mundial. E a doutrina simplificada dos reflexos condicionados faz tudo o que pode para destruir as adversas. Esta doutrina – chamo-lhe pseudodemocrática – tem profundas raízes e é muito perigosa. De facto, uma teoria que postula que o homem não é mais que o produto do meio é confortável para toda a gente. Os cidadãos assim igualizados são tão bem-vindos ao capitalismo americano, que procura o consumidor padrão, como ao totalitarismo vermelho que quer um cidadão sem ideias.
Se, seguindo Freud, estudarmos com atenção as reacções mentais e emocionais que os behavioristas têm contra tudo o que não seja reflexos condicionados, descobriremos a ideologia subjacente a todas as doutrinas políticas da actualidade. O tratamento e controlo de largas massas assentam na presunção errónea de que não há programa inato no homem, isto é, nenhum programa psicogenético. Este ponto de vista igualitário é completamente contrário a toda a evidência biológica.
Nas sociedades humanas a divisão do trabalho é fundada numa diferença, numa desigualdade dos membros da sociedade, que por si só pressupõe uma diferença de capacidades. Hoje em dia assiste-se a uma tentativa de demonstrar a justiça de uma sociedade composta por elementos manipuláveis e intermutáveis. Por outras palavras: o melhor dos mundos possíveis para tiranos russos ou monopolistas americanos. Os adversários da Etologia acusam-nos muitas vezes de ser antidemocratas, já para não dizer racistas, e rodeiam a sua própria doutrina com o halo da democracia. Ora, o fenómeno foi analisado por um escritor americano, Philip Wylie. Ele afirma que a doutrina pseudodemocrática frui a sua força de uma verdade que foi transformada numa mentira. A verdade é que todos os homens devem ter as mesmas possibilidades para desenvolver cabalmente as suas capacidades. Mas quem é que jamais negou isto? Esta verdade indisputável é torcida um pouco e eles proclamam: «se todos os homens têm as mesmas possibilidades, todos os homens serão seguramente iguais». E isto não é verdade. É absolutamente falso, porque todos os homens são desiguais desde o momento da concepção. Porém há a pretensão de que a igualdade é uma chave, o sine qua non da vida colectiva – o que também é falso. Tanto quanto diz respeito aos manipuladores de massas, o cão de Pavlov ainda é o cidadão ideal.
Hoje em dia já se sente uma certa hostilidade contra a elite intelectual em certos estudantes contestatários. Ora, o igualitarismo – não tenhamos dúvidas – que proíbe um homem de ser mais inteligente que a média, é a morte de todo o desenvolvimento intelectual.
Konrad Lorenz in «Ensaio sobre o fim da nossa Idade» de António Marques Bessa.
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