As pessoas moram em gaiolas para coelhos a preços exorbitantes. Já não se pode circular nas ruas. Quando penso no que Roma se tornou, fujo para longe. Os milhões que ganham os promotores. Vindos dos quatro cantos do Mediterrâneo, ei-los que adquirem as melhores casas para delas se apoderarem. Desprezam os nossos gostos e valores; o mau gosto torna-se sinónimo de requinte, o idiota passa por genial, cantores medíocres são vistos como estrelas.
Já não há em Roma mais lugar para um bravo Romano. Na rua os estrangeiros agridem-nos. E depois, ainda por cima, são eles que te acusam e te levam a tribunal.
Onde estão os ritos antigos? A religião é publicamente vilipendiada. Quem teria ousado, outrora, fazer troça do culto dos deuses? Não nos devemos surpreender que a desonestidade seja geral. Já ninguém tem palavra, porque todos perderam a fé. Mesmo os crentes, já não acreditam na virtude. Outrora, um desonesto era algo incrível. E agora, alguém verdadeiramente íntegro é visto como um prodígio.
Juvenal in «Sátiras», século I d.C.
1 comentário:
Impressionante "reprise". Mais uma demonstração, se tal ainda fosse preciso, de que a natureza humana é inalterável. E, cada vez estou mais certo disso, que as nossas atitudes fundamentais se resumem a duas.
Cumprimentos,
Francisco Cabral de Moncada
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