O órgão geme. É Sexta-feira Santa.
Adoração da Cruz na Catedral.
E sobe o coro numa voz que espanta,
– voz de tragédia e cerração mortal!
Só um madeiro agreste se levanta,
abrindo os braços negros por igual.
Os padres cantam. E em tristeza tanta
recanta o incenso a mística espiral.
Soluça o órgão... Com a cruz erguida,
por todo o templo a fé que nos alenta
entoa um hino à Árvore-da-Vida.
E eu, pobre criatura transitória,
enquanto a procissão perpassa lenta,
julgo assistir ao desfilar da História!
António Sardinha in «Na Corte da Saudade».
3 comentários:
Muito bonito soneto. Outra coisa não seria de esperar de A.S.
Maria
Parabéns pelo blogue. Ainda não conhecia.
Maria,
Sardinha, além de um grande intelectual, também era um grande poeta.
Ricardo,
Muito obrigado. Volte sempre!
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