São cheios de encanto em Portugal os dias claros de Inverno,
quando a paisagem se apresenta, como através de cristal polido, mais nítida e
toda ressunante de vernizes. Parece então que o azul do céu se derrama por
cântaros de oiro na nossa alma, enquanto na atmosfera brilham chispas de luz e
reflexos perdidos que a terra, embebida de sol, já não comporta. Despidas as
árvores da sua verde cobertura, nenhum abrigo oferecem à sombra, opaca e lenta,
que agora se refugia nos colos da serra aguardando o cair da tarde para logo se
expandir no seu império nocturno… É nestas horas palpitantes, doiradas e
calmas, em que nos sentimos imbuídos não sabemos de que sentimento de paz e
conciliação, que essas simpáticas casinhas à beira da estrada, ou entre os
campos, melhor nos revelam o seu português sentido.
Raul Lino in «Casas Portuguesas».
Sem comentários:
Enviar um comentário