Hoje, pelo contrário, o homem médio tem as "ideias" mais taxativas sobre quanto acontece e deve acontecer no universo. Por isso perdeu o uso da audição. Para quê ouvir, se já tem dentro de si o que necessita? Já não é época de ouvir, mas, pelo contrário, de julgar, de sentenciar, de decidir. Não há questão da vida pública em que não intervenha, cego e surdo como é, impondo a sua "opinião".
Mas não é isto uma vantagem? Não representa um progresso enorme que as massas tenham "ideias", quer dizer, que sejam cultas? De maneira nenhuma. As "ideias" deste homem médio não são autenticamente ideias, nem a sua posse é cultura. A "ideia" é um xeque-mate à verdade. Quem queira ter ideias necessita antes de dispor-se a querer a verdade, e aceitar as regras do jogo que ela imponha. Não vale falar de ideias, ou opiniões, onde não se admite uma instância que as regula, uma série de normas às quais na discussão cabe apelar. Estas normas são os princípios da cultura.
José Ortega y Gasset in «A Rebelião das Massas», 1929.
1 comentário:
grande verdade.
hoje, toda a gente quer falar de tudo, inclusive daquilo que não domina nem sequer investigou. mas mesmo assim, qualquer "zé" fala, seja do que for...
hoje todos têm "opinião". hoje cada um pensa que sabe, que é o maior, que é "irreverente", que é "independente" e não segue nada nem ninguém.
ninguém quer aprender nada com ninguém. todos acham que têm "opinião própria" e que são "especiais", "iluminados".
mais ainda do que isso...cada cromo acha-se no direito de impôr isso (a sua sentença) aos outros todos, e acha que é obrigado a ser levado a sério.
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