As "Luzes" que escureceram


Respeito tanto as luzes do século no que toca aos conhecimentos físicos, quanto as abomino pelo que pertence à Religião e ao Governo. Neste sentido são elas mesmas a própria revolução pura, e sem máscara, que na sua marcha, umas vezes rápida, outras vezes lenta, mas sempre progressiva, vai destruindo tudo o que encontra. O grande número dos chefes é funesto, dizia Ulisses aos Gregos na Ilíada, não tenhamos senão um chefe, senão um Rei, aquele a quem o prudente filho de Saturno confia o ceptro, e as leis para nos governar a todos. Esta máxima, que se lê no mais antigo dos livros profanos bem conhecidos, ao menos cá dos da Europa, é a mesma dos Provérbios de Salomão: Por mim governam os Reis. Vede como já era conhecida naqueles tempos primitivos, e como a respeito dela estavam de acordo os Escritores sagrados e os profanos: hoje é perseguida, porque as luzes do século a condenam; mas onde irão parar os homens com estas luzes do século, que tanto os tem feito retrogradar nas ideias religiosas e políticas.

José Acúrsio das Neves in «Cartas de um Português aos seus Concidadãos», 1822.

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