Em Outubro de 1903, o Papa São Pio X publicava a sua primeira encíclica, e nela falava dos males anunciados para o fim dos tempos. Mas hoje as coisas estão muito piores do que naquele tempo...
Além disto, e para passar em silêncio muitas outras razões, Nós experimentávamos uma espécie de terror em considerar as condições funestas da humanidade na hora presente. Pode-se ignorar a doença profunda e tão grave que, neste momento muito mais do que no passado, trabalha a sociedade humana, e que, agravando-se dia a dia e corroendo-a até à medula, arrasta-a à sua ruína? Essa doença, Veneráveis Irmãos, vós a conheceis, e é, para com Deus, o abandono e a apostasia; e, sem dúvida, nada há que leve mais seguramente à ruína, consoante essa palavra do profeta: Eis que os que se afastam de Vós perecerão (Sl. 72, 27).
(...)
Em nossos dias é sobejamente verdadeiro que as nações fremiram e os povos meditaram projectos insensatos (Sl. 2, 1) contra o Criador; e quase comum se tornou este grito dos Seus inimigos: Retirai-Vos de nós! (Job 21, 14). Daí, na maioria, uma rejeição completa de todo o respeito a Deus. Daí hábitos de vida, tanto privada quanto pública, que nenhuma conta fazem da soberania de Deus. Bem mais, não há esforço nem artifício que não se ponha em acção para abolir inteiramente a d'Ele, e até a Sua noção.
Quem pesa estas coisas tem direito de temer que uma tal perversão dos espíritos seja o começo dos males anunciados para o fim dos tempos, e como que a sua tomada de contacto com a terra, e que verdadeiramente o filho da perdição de que fala Apóstolo (2 Tess. 2, 3) já tenha feito o seu advento entre nós, tamanha é a audácia e tamanha a sanha com que por toda a parte se lança o ataque à Religião, com que se investe contra os dogmas da Fé, com que se tende obstinadamente a aniquilar toda a relação do homem com a Divindade! Em compensação, e é este, no dizer do mesmo Apóstolo, o carácter próprio do Anti-Cristo, com uma temeridade sem nome o homem usurpou o lugar do Criador, elevando-se acima de tudo o que traz o nome de Deus. E isso a tal ponto que, impotente para extinguir completamente em si a noção de Deus, ele sacode entretanto o jugo da Sua majestade, e dedica a si mesmo o mundo visível, à guisa de templo onde pretende receber a adoração dos seus semelhantes. Senta-se no templo de Deus, onde se mostra como se fosse o próprio Deus (2 Tess. 2, 2).
Qual venha a ser o desfecho desse combate travado contra Deus por uns fracos mortais, nenhum espírito sensato pode pô-lo em dúvida. Certamente, ao homem que quer abusar da sua liberdade lícito é violar os direitos e a autoridade suprema do Criador; mas ao Criador fica sempre a vitória. E ainda não é dizer o bastante: a ruína paira mais de perto sobre o homem justamente quando mais audacioso ele se ergue na esperança do triunfo. É o que o próprio Deus nos adverte nas Sagradas Escrituras. Dizem elas que Ele fecha os olhos sobre os pecados dos homens (Sab. 11, 24), como que esquecido do Seu poder e da Sua majestade; mas em breve, após essa aparência de recuo, acordando como um homem cuja força a embriaguez aumentou (Sl. 77, 65), Ele quebra a cabeça dos seus inimigos (Sl. 67, 22), a fim de que todos saibam que o Rei de toda a terra é Deus (Sl. 46, 8), e a fim de que os povos compreendam que não passam de homens (Sl. 9, 20).
Papa São Pio X in encíclica «E Supremi Apostolatus», 1903.
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