Do valor da terra


Eu sou um rural e, embora em situação diferente, vivi duas guerras, uma em que interviemos activamente nos quadros de uma aliança, outra em que não batalhámos, mas houvemos de organizar a defesa nos quatro cantos do mundo. Daí bem compreender o campo e conhecer as necessidades vitais que o campo tem de satisfazer. Independentemente do que se possa chamar a poesia campestre, que atrai os sorrisos um tanto desdenhosos da economia industrial, por mim, e se tivesse de haver competição, continuaria a preferir a agricultura à indústria; mas se quereis ser ricos, não chegareis lá pela agricultura, ainda que progressiva e industrializada, neste País de solos pobres e climas vários. A terra é humilde, tanto que se deixa a cada momento pisar; o trabalho da terra é humilde, porque o homem a cultiva, humildemente debruçado sobre as leivas; o fruto do trabalho da terra é pobre, porque está no início do ciclo das operações comerciais ou industriais, destinadas a valorizá-lo ou a enriquecê-lo. Assim, a faina agrícola, sujeita à torreira do sol ou à impertinência das chuvas, é acima de tudo uma vocação de pobreza; mas o seu orgulho vem de que só ela alimenta o homem e lhe permite viver. Quando se governa um País, e se nos deparam os mercados difíceis, os mares impraticáveis, as bocas famintas sem saber de onde há-de vir um bocado de pão, a terra pobre, a terra humilde, sobe então à culminância dos heroísmos desconhecidos e dos valores inestimáveis.

António de Oliveira Salazar in discurso de 18 de Fevereiro de 1965.

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