O tomismo e o neo-tomismo


Antes de mais, uma reflexão. O problema, como nos interessa, hoje, e como se apresenta hoje, às nossas considerações, é relativamente moderno: é consequência da Revolução francesa e da Declaração dos Direitos do Homem. A Democracia de Aristóteles ou de S. Tomás é a democracia das Repúblicas gregas e da República romana. Entre essa Democracia e a Democracia dos Direitos do Homem, do Sufrágio universal e da Soberania popular, há tanta semelhança como a que possa haver entre o ovo e o espeto.
E a prova disto temo-la no que acontece com S. Tomás: pano para todas as mangas; manjar para todos os paladares; bandeira para todos os partidos. Tenho a impressão de que se S. Tomás viesse a este mundo, e ouvisse os seus comentadores nesta matéria, só teria uma resposta: «não os percebo!»
Para o meu amigo João Ameal, afigura-se-lhe «indubitável a preferência do Aquinense pela hereditariedade dinástica» (São Tomaz de Aquino, pág. 440).
O Pe. Gillet [que abandonou a Fé católica em 1928] decretava, nas semanas Sociais de Leão, em 1925, que «é bem difícil saber se ele é, em princípio, realista ou republicano».
M. Charles, na Croix de 7 de Janeiro de 1911, afirmava que «os partidários do Sufrágio universal invocavam a autoridade de S. Tomás e, ao que parece, com razão».
Por mim, penso que entre S. Tomás e nós, há sete séculos e a Revolução francesa. Se o Angélico Doutor pudesse ouvir o que dizemos, e nos percebesse, devia optar, sem hesitação, pela Monarquia – não tanto por fidelidade às doutrinas que expôs, como pelo que é a filosofia da Democracia parlamentar e revolucionária.
Se antes do século XVIII, se desconheciam os Direitos do Homem, a Enciclopédia, Rousseau, a República parlamentar e a Monarquia constitucional, não nos deitemos à aventura à busca de juízos, na Igreja, sobre tais doutrinas ou instituições.
Há uma coisa que a Igreja nos ensinou: obediência ao Poder legítimo, porque todo o Poder legítimo vem de Deus. É à luz deste princípio que devemos julgar as instituições criadas pela Revolução.

Alfredo Pimenta in «A Igreja e os Regimes Políticos», 1942.

Sem comentários: