Pio XII, de saudosa memória, falou na Mensagem Natalícia, de 1944, transmitida por via radiofónica, sobre as qualidades que deveria ter a democracia para ser cristã. Eram tantos os requisitos exigidos pelo Pontífice que, tida por muitos a célebre Radiomensagem como uma apologia da democracia, na realidade bem mais parece ser a condenação total e definitiva desse regime, por nunca poder vir a ser cristão. Uma das exigências do Pontífice era a sujeição da democracia a uma lei superior, à lei de Deus. Caso contrário seria um regime «totalitário», na acepção condenável do termo.
Sujeitar-se a democracia a uma lei superior, transcendente, à lei de Deus... mas como se a democracia se sujeita a votos e os votos estão sujeitos à vontade soberana do cidadão?
Luís de Sena Esteves in revista «Política», Julho de 1972.
8 comentários:
Defina Deus...
DEUS: Ser supremo, perfeito, infinito, criador, incriado, inteligente, distinto do mundo, princípio e fim de todas as coisas, que tem em Si, e por Si, a razão da própria existência.
No fundo, acabou de descrever o Universo em todos os seus mistérios. Apenas corporizando esses mistérios na figura de Deus, ou seja, uma concepção e uma abstracção humanas. Como disse Xenófanes, se os cavalos tivessem deuses, estes seriam cavalos. Isto dá uma ideia da concepção humana de Deus. Logo, não se percebe como é que algo concebido pelo Homem se pode sobrepor a todas as outras concepções político-sociais humanas. É misturar alhos com bugalhos, como pretender que a ciência se submeta à religião ou à filosofia, quando estão em planos distintos.
Começa por identificar Deus com o Universo e depois diz que Deus foi uma invenção humana?! Acaso o Universo foi uma invenção humana?!
A descrição que apresentei é de Algo que transcende o espaço-tempo, e não de Algo que é o próprio espaço-tempo. Desde quando o Universo é um Ser inteligente, sem princípio nem fim, puramente espiritual, distinto do próprio mundo natural (espaço-tempo), criador e incriado? Acaso o Universo tem em Si a razão da sua própria existência? O Universo não teve um começo (Big Bang) e não terá um fim (conforme Segunda Lei da Termodinâmica)? Pois então repare no seguinte silogismo:
1. Tudo o que começa a existir tem uma causa (princípio da causa-efeito).
2. O Universo começou a existir (Big Bang).
3. Logo, o Universo tem uma causa.
E como o Universo não pode ser a sua própria causa (porque seria o mesmo que dizer que um relógio se criou a si mesmo), a causa do Universo tem de ser necessariamente além do próprio Universo (espaço-tempo), a-espacial, atemporal, imaterial, incausada e com um poder necessário para criar o Universo. Ou seja, DEUS.
Ciência, que vem do latim scientia, significa Sabedoria e é um dom do Espírito Santo. Mas modernamente trata-se a Ciência como mero Conhecimento. E acaso não há conhecimento verdadeiro ou falso, conhecimento certo ou errado? Logo, é perfeitamente natural que a "ciência" tenha que estar submetida a algo que a transcenda e supere. Existe uma hierarquia natural de valores, a qual subordina as coisas mais simples às mais complexas. Como pode então querer que o simples seja igual ao complexo, e o pequeno igual ao grande? Por exemplo, a Matemática ocupa-se do cálculo de quantidades, enquanto a Física estuda as propriedades dos corpos e as suas leis. Para a Matemática apenas interessa o número de canetas, enquanto para a Física interessa o material com as canetas são feitas e suas propriedades e leis. Assim, a Matemática é uma disciplina que se ocupa de realidades mais simples do que a Física, o que significa que a Matemática tem que estar necessariamente subordinada à Física. Neste sentido, do menor para o maior: Matemática, Física, Metafísica, Teologia.
Essa possível afirmação de Xenófanes serve para os deuses mitológicos, antropomórficos, finitos, nascidos da imaginação e da superstição humana, mas não serve para um Ser transcendente, puramente espiritual e perfeito.
Não identifiquei Deus com o Universo, fiz uma separação clara. A mistura é sua, não minha.
Mas seguindo o seu raciocínio hierárquico, defende então uma teocracia e não uma monarquia. E sabemos bem ao que isso levou, por exemplo, em alguns países islâmicos.
Está esquecido que me disse: «No fundo, acabou de descrever o Universo em todos os seus mistérios»?
Não sei o que entende por "teocracia". Mas se por "teocracia" entende colocar Deus em primeiro lugar, então os nossos Reis foram "teocratas" e a Reconquista ou os Descobrimentos foram também obra da "teocracia". Assim como foi uma "teocracia" o Sacro Império Romano-Germânico, o Reino de França ou o Reino da Hungria.
Enfim... da próxima vez traga argumentos, por favor.
Só para precisar alguns dos conceitos (que não invalida a argumentação exposta pelo Reaccionário):
Deus não pode ser definido:
1. Porque não conhecemos a sua essência (nesta vida);
2. Porque Deus não tem limites.
O que o Reaccionário indicou são atributos ou propriedades.
Conhecimento (sentido próprio), Ciência e Sabedoria são o mesmo: A Ciência é o conhecimento perfeito pelas suas causas. Conhecer falsamente determinada coisa, é não ter conhecimento desta mesma coisa, porque seu pensamento não se soube 'adequar' à coisa real. Conhecimento falso é portanto, não conhecimento. Também podemos ter conhecimento (sentido alargado) sem ter adquirido ciência, quando por exemplo, conhecemos as coisas somente pelos dados sensíveis; ou por vida da experiência sabemos fazer algo.
Veja São Tomás de Aquino.
A Matemática não é subordinada à Física (geral).
Na Ordem das disciplinas a Matemática ocupa a posição entre Metafísica, e a Física.
Hoje, as ciências físicas tendem a explicar os seus fenómenos pela matemática. Esta relação já estava prevista pelo mesmo São Tomás, que a chamou de "ciência média" - entre a física e a matemática.
Telmo Pereira,
A aprovação que acabo de dar ao seu comentário não signifique uma concordância com todo o conteúdo do mesmo.
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