Estes três dias foram três solenes triunfos para a Religião. Se até aqui se tem descrito o entusiasmo com que todo o Povo afluía a venerar a Santa Imagem; se entre este Povo se notam algumas Pessoas da alta Côrte; vamos agora narrar o testemunho autêntico da devoção que os nossos próprios Soberanos e Real Família tomaram com a Senhora da Conceição da Rocha; para prova de que em Portugal, desde os mais humildes Vassalos até às Pessoas Reais, reconhecem todos o valimento poderoso, com que a Divina Mãe do Salvador, milagrosamente os protege nas suas rogativas e circunstâncias aflitivas.
Restituídos os Direitos do Trono e do Altar, pela feliz Restauração dos Atributos da Realeza nos fins de Maio de 1823, Suas Majestades Fidelíssimas, o Sr. D. João VI e a Sra. D. Carlota Joaquina, assim como Suas Altezas as Senhoras Infantas procuraram em particular render Graças à Santíssima Virgem.
No dia 5 de Junho, em que S. M. El-Rei Nosso Senhor voltou triunfante a entrar de Vila Franca na Capital, diz a Gazeta de 7 o seguinte:
«Ao entrar na Igreja, tomaram as varas do Pálio os Sacerdotes paramentados; e tendo-se dado a Água benta a Sua Majestade, segundo o cerimonial do costume, foi colocar-se com o Sereníssimo Senhor Infante debaixo do rico docel que lhe estava preparado, assim como subiram as Senhoras Princesas para a Tribuna, onde assistiram ao solene Te Deum; no fim do qual fez Sua Majestade Oração a Nossa Senhora da Rocha».
No dia 23 do referido mês em que S. M. a Rainha voltou pela primeira vez de Queluz a Lisboa, diz o seguinte a Gazeta de 25:
«Chegado o Cortejo à Sé, foram S.S. M.M. e A.A. recebidos no átrio com as cerimónias que o Ritual prescreve em tais ocasiões; e dirigindo-se ao Altar-mor, ali fizeram fervorosa e demorada oração; cantou-se um solene Te Deum; e concluído ele, passaram as Reais Pessoas ao Altar da Senhora a Grande, ou Santa Maria Maior, ao pé de cuja respeitável Imagem está exposta à veneração dos fiéis a da Senhora da Conceição da Rocha. Com que piedade e devoção não admirou ali o imenso concurso a Augusta Rainha de joelhos com seu Real Esposo e seus Augustos Filhos, implorando sobre este Reino as bênçãos celestiais; agradecendo à Virgem Santíssima tantos benefícios por sua intersecção alcançados, e o grande triunfo que tivera o Altar, o Trono Português, e este Povo, que desde a aparição d'aquela devota Imagem, com tanto zelo e com tanta fé lhe suplicava remédio a tantos males, com a queda do Governo usurpador! Quase vinte minutos durou a Oração neste Altar, e saíram depois S.S. M.M. e A.A.»
Fonte: «Narração da descoberta da Imagem de N. Sra. da Conceição da Rocha em o dia 31 de Maio de 1822».
El-Rei D. Miguel |
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