Capelinha das Aparições: ataque bombista de 6 de Março de 1922 |
Parte do relatório do Administrador do Concelho de Ourém, o maçon republicano Artur de Oliveira Santos, ao Governador Civil do Distrito de Santarém:
Fátima é hoje, no País, uma etapa da Reacção, que procura ponto de apoio para base da sua resistência. O facto de se não ter impedido eficazmente a peregrinação deveu-se simplesmente a terem as forças armadas chegado tarde. É certo que foram postas à minha disposição forças das unidades mais próximas porque aquelas que chegaram no dia 12, à tarde, eram insuficientíssimas, mas, requisitando mais, tinha dois caminhos que trariam para o Regime inconvenientes novos.
As forças que eu requisitasse das unidades mais próximas, só aqui chegariam no dia 13. Ora no dia 12, já estavam em Fátima, seguramente, 25 000 pessoas. Com o auxílio de novas forças poderia eu ter ido a Fátima dispersar 50 000 a 60 000 pessoas? O sangue que fatalmente correria não seria uma arma terrível contra o Governo e contra o Regime? Por outro lado, não me utilizando a força, cairia, pelo menos, no ridículo, e não querendo, por princípio algum, desobedecer a V. Ex.ª, preferi não requisitar mais a tropa e mandar a pequena força para onde fora requisitada, fora do local da Cova de Iria, tanto mais que a mesma força seria suficiente para impedir a saída da procissão de Fátima, caso teimassem em realizá-la, o que, todavia, não era preciso, pois que eu já tinha conseguido impedir a sua realização por outros meios mais suasórios, embora não deixassem de causar receio ao pároco da freguesia e a outras pessoas.
Às 22 horas da noite de 12, veio o Dr. Andrade e Silva (a pedido da Sr.ª D.ª Madalena Serrão Machado, que tem feito a perigosa propaganda da cura do cancro pelas águas pluviais da Cova de Iria) pedir a realização da procissão. Neguei-lhe terminantemente permissão para esta e fiz-lhe saber que no dia 13, prenderia o pároco da freguesia. Pediu-me então aquele cidadão que tal não fizesse, tão convencido estava o Dr. Andrade e Silva de que eu tinha esse intuito.
Na comunicação enviada a V. Ex.ª, julgo que em 10 do corrente mês, frisava eu que havia duas maneiras de intervir: 1ª) O Governo mobilizaria os meios de transporte em diversos distritos; 2ª) ou, então, a Guarda Republicana impediria que se realizassem actos de culto externo. Embora, como V. Ex.ª sabe, me prejudique materialmente continuar por muito tempo neste lugar, que V. Ex.ª se dignou confiar-me, eu não terei essa dúvida, se assim for preciso, de nele me conservar, porque nunca hesitei no cumprimento dos deveres de republicano, que me prezo de ser, desde há longos anos.
A Reacção vai triunfando, hipocritamente, e a Liberdade perde terreno, fazendo-lhe concessões. Aquela está fora da lei, e é necessário metê-la na ordem. Julgo que há maneira de jugular a Reacção da Cova de Iria. Quando o Governo não possa, ou, para melhor dizer, não queira mobilizar os meios de transporte em diversos distritos, tomar-se-iam, a pouca distância da Cova de Iria, as embocaduras das estradas que conduzem a Fátima, anunciando-se devidamente o caso com certa antecedência. Fazendo isto, durante meses consecutivos estou certo que a Reacção sofreria um grande golpe, deixando a pretensão de ter um Estado dentro do Estado.
Junto vários documentos.
Saúde e fraternidade!
Vila Nova de Ourém, 31 de Outubro de 1924.
O Delegado do Governo encarregado do inquérito,
Artur de Oliveira Santos
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