Talmon filia o nascimento desta concepção na revolução intelectual operada na segunda metade do século XVIII. Nessa época, um sector da filosofia ocidental, conclui que «as condições resultantes da fé, tempo e costumes, nas quais tinham vivido até então, eles e os seus antepassados, eram anti-naturais e tinham que ser substituídas por normas uniformes, deliberadamente planeadas, naturais e racionais».
No essencial, a democracia totalitária assenta na ditadura como método de imposição da utopia. A sociedade perfeita, o reino da vitória, é o fim supremo da acção humana e política. Para a instaurar, todos os meios são bons, todas as resistências devem ser esmagadas. Os Niveladores, os Jacobinos, os Bolcheviques, instauraram, ou tentaram instaurar, modelos de totalitarismo democrático: para que venha o Paraíso, a República dos Iguais, ou a Sociedade sem Classes, matam-se refractários, cortam-se cabeças, criam-se campos de reeducação e apetrecham-se hospitais psiquiátricos. A sociedade política não é um quadro de regras de jogo e compromissos, mas um instrumento, um degrau, um ensaio no caminho para a sociedade final, perfeita e acabada. Começa-se em Rousseau e acaba-se no Arquipélago Gulag, com uma lógica intrinsecamente perfeita.
António Marques Bessa e Jaime Nogueira Pinto in «Introdução à Política», 1977.
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