Capítulo II – Dos humildes juízos que cada um deve ter de si mesmo
Todos os homens desejam naturalmente saber. Mas de que aproveita o conhecimento sem o temor de Deus? Por certo, melhor é um humilde rústico que serve a Deus, do que um soberbo Filósofo que, deixando de se conhecer a si mesmo, observa os movimentos dos astros. Aquele que perfeitamente se conhece, tem-se por vil, e não se deleita nos louvores humanos. Se eu soubesse tudo o que há no mundo, e não estivesse em graça, de que me aproveitaria este conhecimento diante de Deus, que me há-de julgar pelas minhas obras?
Não tenhas demasiado desejo de saber, porque se acha nele grande distracção e engano. Os Letrados gostam de ser tidos e aplaudidos como tais. Muitas coisas há, que sabe-las, pouco ou nada aproveita à alma: e muito louco é quem atende a outras coisas mais, que às que tocam à sua salvação. As muitas palavras não enchem a alma, mas a boa vida a refrigera, e a pura consciência lhe dá grande confiança em Deus.
Quanto mais e melhor souberes, tanto mais gravemente serás julgado, se não viveres muito santamente. Não te desvaneças pois em alguma arte ou ciência, antes teme o teu saber. Se te parece que sabes muito, tem por certo que é muito mais é o que ignoras. Não presumas de alta sabedoria, mas confessa a tua ignorância. Para que te queres ter em mais que os outros, havendo muitos que te são superiores na ciência da Lei? Se queres saber e aprender alguma coisa com utilidade, deseja ser desconhecido e reputado por nada.
O verdadeiro conhecimento, e desprezo de si mesmo, é a mais útil e a mais sublime lição. Grande sabedoria e perfeição é sentir cada um sempre bem e grandemente dos outros, e de si não presumir nada. Se vires que alguém peca publicamente, ou comete culpas graves, não te deves julgar por melhor; pois não sabes quanto poderás perseverar no bem. Todos somos fracos, mas a ninguém tenhas por mais fraco que tu.
Frei Tomás de Kempis in «Imitação de Cristo», Livro I, 1441.
2 comentários:
Se não nos vigiamos, nos tornamos horríveis santos. Agradeço por este artigo.
Assim como o Orgulho é o primeiro dos pecados, a Humildade é a primeira das virtudes. E sem amor à verdade não há humildade. E sem humildade não há santidade.
Obrigado. Volte sempre.
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