– E Afonso Costa também é judeu?
– Sim, e directo representante de judeus, e representante directo da República, e representante de Portugal lá fora! Afonso Costa, filho do Dr. Sebastião da Costa, ambos naturais da Vila de Seia. Averiguei, numa tarde que por lá passei, serem descendentes em linha recta do escrivão de almotaçaria em Seia, Pêro da Costa, cristão-novo, sentenciado na Inquisição de Coimbra à pena máxima, o relaxamento em pessoa, após alguns anos de prisão. Foi um dos falsos mártires do Judaísmo, um dos mais integérrimos. Ardeu em 1636 por herege, apóstata, negativo e pertinaz. O processo-crime jaz na Torre do Tombo, número 6633, Inquisição de Coimbra.
É interessante lembrar que a angústia desta espécie de Rabi da Vila de Seia teve princípio num dia 5 de Outubro e na mesma idade com que o Dr. Afonso Costa, símbolo da República, se encontrava a 5 de Outubro de 1910, vingando a afronta de trezentos anos de Inquisição.
«Coisas do destino», dizia-me ontem o Rabi Samuel Mucznik, «é notório cá entre nós israelitas, que naquela mesma noite que precedeu a Revolução de 5 de Outubro, Afonso Costa chegava a uma eminência de Lisboa e antes de soltar um sinal convencional, brandira no ar um facho vermelho e outros cabalísticos sinais em memória da Inquisição vencida!»
Mário Saa in «Portugal Cristão-Novo ou Os Judeus na República», 1921.
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