Cervantes e a Novela da Ciganinha


Parece que os Ciganos, e Ciganas, só vieram a este mundo para serem ladrões; nascem de pais ladrões, criam-se com ladrões, estudam para ladrões, e finalmente, acabam sendo ladrões comuns e agressores a toda a velocidade; e o desejo de roubar, e o roubo, são neles como acidentes inseparáveis, que não desaparecem senão com a morte.

Miguel de Cervantes in «Novela de la Gitanilla», 1613.

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Com esta descrição começa Cervantes o seu romance da Ciganinha. E como se sabe, Cervantes viveu numa época de intensa opressão e obscurantismo, e por isso mesmo teve total liberdade para escrever e publicar um texto desta natureza. Se Cervantes vivesse nos dias de hoje, época da mais ampla liberdade e iluminação, estaria obviamente proibido de expressar e publicar tais excentricidades, correndo o risco de ser multado, banido ou até preso.
Mas então antigamente não havia censura?! Certamente que havia, e bem! Havia censura pública e legal para quem quisesse expressar a Falsidade e a Mentira. Em sentido contrário, hoje temos uma censura discreta e dissimulada para quem quiser expressar a Verdade.

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