Convêm os Historiadores, assim sagrados como profanos, que o primeiro pai dos negros foi Cam, filho de Noé, o qual achando a seu pai tomado do vinho e descomposto, chamou aos irmãos e manifestou a toda a família a falta de que só ele era sabedor: Quod solus vidit, alits propagavit. Hugo Cardinal in Genes. A ele e a toda a sua posteridade deu Noé a sua maldição, e um dos efeitos dela foi o perderem todos a alvura natural, símbolo da inocência, ficando por este modo o castigo proporcionado ao delito, pois os descendentes daquele que ofendeu o decoro do pai e o denegriu, ficaram negros, e o escurecer da fama foi punido com a escuridade do rosto. Confirma-se esta opinião com o reparo de S. João Crisóstomo na Homilia 29 in Genes. aonde atribuiu à maledicência o cativeiro em que vivem em terras alheias a maior parte dos negros, de sorte que a sua escravidão parece consequência da sua negridão. Qui sensibilem nuditatem e vulgavit, excidit ab honore, quem parem habuit cum fratribus, condemnatus ut illis serviret.
Pe. D. Rafael Bluteau in «Vocabulário Português e Latino», Tomo V, 1716.
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