Pelos anos de 1615, andavam os Portugueses em duras guerras no Sertão da Etiópia Oriental, em demanda das minas de prata, de que abundam as serras e terras chamadas Chicova, onde já tínhamos um Forte do mesmo nome, e andávamos em ajustes com o Imperador de Monomotapa, os quais se conseguiram e pouco depois se quebraram, com vários sucessos de que daremos em outros dias alguma notícia; Neste em que estamos [15 de Março] e no ano referido, atacaram o mesmo forte dez mil Cafres armados, não constando o presidio mais que de quarenta Portugueses. Foi incrível o ardor com que os bárbaros insistiram na empresa, atroando a terra com horrendas vozes e cobrindo-a com chuveiros de setas, já por elevação sobre a nossa gente, já direitas, e com tanta veemência, que passavam os reparos de parte a parte. Por todas em circuito nos acometiam, por todas os rechaçávamos, obrando os defensores maravilhas de valor, em tanta desigualdade de poder. Por vezes esteve a praça em manifesto perigo, porque já não havia braços, nem alentos em tão poucos defensores para tão porfiada invasão; Mas quando os Negros se dispunham ao último assalto com vivas esperanças da vitória, deram sobre eles umas companhias de Portugueses, que acudiram em socorro dos companheiros, com que, mortos muitos Cafres, muitos feridos, e confusos todos, nos deixaram nas mãos uma das grandes vitórias, que conseguiram naquelas partes as armas Portuguesas.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
Sem comentários:
Enviar um comentário