Da Revolução Haitiana


Tornando às colónias Francesas, nada é tão espantoso como a revolução da de S. Domingos: drama trágico em dois actos, que custou 80 000 vidas dentro de uma ilha. No primeiro acto figuravam brancos e negros da América contra brancos da Europa; no segundo somente negros contra brancos, e os negros ficaram de cima, compreendendo nesta denominação os mulatos. Enchei-vos de horror à vista dos seguintes extractos de uma proclamação, com que o chefe negro Dessalines excitou os seus à matança dos brancos: «Meu braço suspendido sobre as suas cabeças tem demorado por muito tempo descarregar o golpe... sede cruéis e sem misericórdia, semelhantes a uma torrente furiosa que tem rompido os seus diques, e que arrasta tudo o que tenta opor-se às suas ondas. Vossa fúria vingadora destruiu, e levou tudo no seu curso impetuoso... Onde está o vil habitante do Haiti, tão indigno da regeneração, que não julgue ter cumprido os Decretos do Eterno exterminando estes tigres sequiosos de sangue? Se há algum, fuja: A nação indignada o expulsa do seu seio; vá ocultar a sua vergonha longe de nós. O ar puro, que nós respiramos, não é feito para os seus órgãos grosseiros; é o ar puro da liberdade augusta e triunfante... Eu tenho salvado a minha pátria; eu tenho vingado a América. Esta confissão, que eu faço à face da terra e do Céu, faz o meu orgulho e a minha glória. Guerra de morte aos tiranos! eis a minha divisa. Liberdade e Independência! eis o grito da nossa reunião.»

José Acúrsio das Neves in «Cartas de um Português aos seus Concidadãos sobre diferentes objectos de utilidade geral e individual», Carta XII, 1823.

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