É antiquíssima em Portugal a sagrada Imagem de Cristo crucificado, que o mar lançou nas praias de Matosinhos, uma légua de distância da Cidade do Porto. É tradição constante que foi feita por Nicodemos, discípulo do Senhor, que como testemunha de vista e escultor excelente, faria sem dúvida o retrato muito conforme ao Divino Original. O mesmo se afirma de outras Imagens semelhantes, como são a de Luca em Itália, a de Burgos em Castela. Faltava à nossa Imagem um braço, e por mais que vários Escultores se esforçaram a suprir com outro aquela falta, nunca a obra saiu com tanta perfeição, que suprisse com igualdade a diferença. Era grande, por este motivo, a pena e desconsolação dos devotos, sucedeu, pois, que andando uma mulher junto do mar, viu na área um pequeno vulto. Não lhe soube distinguir a forma, mas conhecendo que pela matéria servia para o lume, voltando para casa, o lançou nas brasas; e vendo que elas o respeitavam e que o lançavam de si, ou reverentes, ou medrosas, deu parte daquela maravilha a pessoas de juízo, as quais com fácil exame, conheceram ser o braço que faltava do Santo Cristo: Assim o comprovou a experiência: porque sem diferença do outro ajustou com admirável proporção. Obra o Senhor invocado nesta santa Imagem contínuas e raras maravilhas.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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