A conquista portuguesa do Barém


A Ilha chamada Barém está situada no mar Pérsico, cento e dez léguas distante da Cidade de Ormuz; Tem trinta de circuito e é muito fértil e rica, e nela se faz a pescaria do aljôfar e pérolas, as melhores e mais finas de todo o Oriente: Era dos Reis de Ormuz, Vassalos da Coroa Portuguesa; Mas um Rei vizinho, chamado Mocrim, se levantou com ela, e a mandou fortificar e bastecer de maneira que se deu por seguro de todo o poder dos seus inimigos. Acharam-se obrigados os Portugueses a desfazerem esta violência e reporem a Ilha no estado antigo; Foi a esta empresa António Correia, nobre Capitão e de assinalado valor, e levou pouco mais de duzentos homens; Com doze mil o esperava Mocrim, de diferentes Nações, Árabes, Persas e Rumes [=Turcos]. Disputou-se o desembarque dos nossos com ardentíssimo furor, mas postos em terra, por baixo de horrendos perigos de água e incêndios de fogo, investiram a Fortaleza; Os inimigos a defendiam com grande esforço e com lanças de trinta palmos faziam grande estrago nos Portugueses. Aqui disseram a António Correia que seu irmão Aires Correia ficava morto, e respondeu: Avante, amigos, deixai-o que morreu em seu ofício; E dando novamente Santiago nos infiéis, começaram estes a ceder e fraquear: Então sucedeu ser ferido mortalmente El-Rei Mocrim, e sendo retirado pelos Cabos principais que o seguiam, caiu o ânimo aos outros e se renderam todos à mercê do vencedor. Foi este feito tão ilustre e tão célebre e de tanta glória para aquele famoso Capitão, que desde aquele tempo ajuntou ao apelido de Correia o de Barém, que se continuou em sua nobre descendência.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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