Dom Frei Amador Arrais


Dom Frei Amador Arrais, natural de Beja, Religioso do Carmo, Doutor pela Universidade de Coimbra e Lente de Teologia no Real Mosteiro de Santa Cruz da mesma Cidade; El-Rei Dom Sebastião o nomeou Prégador da sua Capela Real, e o Cardeal Infante Dom Henrique o elegeu seu Bispo Coadjutor do Arcebispado de Évora, e o foi com o título de Adrumetino e depois com o de Trípoli; e com tanta satisfação, que no testamento com que faleceu o mesmo Cardeal Rei, o deixou muito recomendado a seus sucessores; pelo que El-Rei Dom Filipe I de Portugal o conservou no lugar que tinha de Esmoler-mor, até o nomear, como fez, Bispo de Portalegre. Governou santamente esta Diocese, celebrou Sínodo, em que estabeleceu justas Leis. Fez boas obras na sua Sé e em outras Igrejas. Resgatou todos os seus Diocesanos, que com a perda d'el-Rei Dom Sebastião padeciam cativeiro em África. Era benigno, afável e compassivo. Não houve pobre, que lhe pedisse esmola, que fosse sem ela; e dizia que ninguém pedia sem alguma necessidade. As pessoas nobres, recolhidas e necessitadas, não era necessário que lha pedissem, porque ele tinha cuidado de procurar saber o de que necessitavam, e de noite lho mandava a suas casas. Desejoso de voltar para o retiro da sua Religião, renunciou o Bispado com a reserva de uma boa côngrua, e recolheu-se no seu Colégio de Coimbra, do qual foi grande benfeitor, e nele faleceu santamente neste dia [1 de Agosto] ano de 1600. Compôs dez Diálogos de diversos assuntos, impressos duas vezes.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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