Comissão para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja


É neste âmbito que foi constituída, a instâncias e sob a supervisão (chamemos-lhe assim) da Conferência Episcopal, por decisão de Novembro de 2021, sob a batuta do seu presidente, o Senhor Bispo D. José Ornelas – ao que consta, um homem da confiança de Sua Santidade o Papa – uma "Comissão Independente para o Estudo de abusos Sexuais na Igreja Católica", constituída por seis elementos, cabendo ao Dr. Pedro Strecht, "coordená-la".
Foi uma comissão muito elogiada e na apresentação dos seus membros pode ler-se coisas como, Pedro Strecht, pedopsiquiatra e professor do ensino secundário e universitário, etc; Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, etc; Daniel Sampaio, médico psiquiatra, professor catedrático de Psiquiatria e Saúde mental, etc; Álvaro Laborinho Lúcio, Juiz Conselheiro e Escritor, Doutor "Honoris Causa" pela Universidade do Minho, etc; Filipa Tavares, Assistente Social, com formação em Terapia Familiar, etc; Catarina Vasconcelos, Realizadora e Designer, licenciada pela Faculdade de Belas Artes, etc.
A comissão iniciou os seus trabalhos e apresentou os resultados dentro do prazo, algo de muito louvar.
Parece que em vez de entregar as suas conclusões à Conferência Episcopal – para quem supostamente trabalhava – resolveu apresentar os resultados no palco da Gulbenkian, tendo o mau gosto – chamemos-lhe assim – de lançar para o éter, sem qualquer escrúpulo ou filtro, declarações de testemunhas de fundo algo "pornográfico".
Apetece-me dizer, porém, que a montanha quase que pariu um rato (face às expectativas criadas e circo mediático montado), dado que o resultado final – e não se pode alegar qualquer entrave ou falta de liberdade à acção da Comissão – se resumiu a enviar para o Ministério Público 25 casos ditos comprovados de abusos sexuais (sendo que dez foram logo arquivados), os quais só se transformam em efectivos após o trânsito em julgado.
O que aconteceu depois de a Comissão ter validado 512 denúncias; entrevistado 34 vítimas; recebido nove testemunhos por escrito, de pessoas abusadas; constatado nos arquivos de 20 congregações religiosas, mais oito casos e tido conhecimento pela imprensa, de mais 19 casos. O que dá um total de 70 possíveis vítimas. A isto deve acrescentar-se que a Comissão terá recebido também cerca de 500 formulários anónimos, o que à partida, não podem ser considerados como aceitáveis.
Não estou a tirar importância ao número, mas também não vou embarcar na frase estafada de que um, já seria demais...
Por artes mágicas a que se pretende dar um fundo matemático, a Comissão, sem explicar lá muito bem que contas é que fez, extrapolou que, face aos resultados (ditos parciais) obtidos, o número total de casos poderia chegar a 4817! Isto para um período de 72 anos. Uma tal precisão é de assombrar, podendo ao menos terem usado da prudência de dar uma estimativa, sei lá, entre 4 e 5000...
A Comissão também não fez distinção entre as crianças e adolescentes, que foram abusados, já que não é a mesma coisa – como apontámos no início – nomeadamente em termos de autodeterminação. E são especialistas que o dizem, não sou eu.
(...)
Mas atentemos ainda noutra coisa assaz curiosa. De todo o curriculum apresentado, dos seis elementos (três homens e três mulheres – quero eu supor) está ausente a referência a que dois (elementos) são judeus, um do "ramo" sefardita e outro do "ramo" asquenaze; três são marxistas, sendo que um bebe da marca Trotsky e outros dois pertencerão à Maçonaria.
Não se sabe também se são religiosos, ateus ou agnósticos.
Ora a questão que se pode colocar é esta: como é que uma comissão cujos membros pertencem a três "comunidades", a saber a "Judaica", a Maçonaria (sobretudo a "Francesa") e o Comunismo (que é um expoente do Marxismo), que se têm revelado ao longo dos séculos, arqui-inimigas da Igreja Católica e não raras vezes a quiseram destruir (o contrário também pode ser alegado, embora há muito que tal não se possa colocar nesses termos) podem, ou devem, ser membros de uma comissão com o rótulo de "independente" (deixo aos leitores tentarem discernir quem é quem). Eu quero crer que as pessoas apontadas, cuja respeitabilidade não está posta em causa, tenham a honestidade para pautar a sua atitude por critérios de objectividade e isenção, mas que tudo isto pode deixar dúvidas no ar, pode.
Pois saber as crenças ou actividades das pessoas é de suma importância para avaliar o seu desempenho e modo de ser (o que teria sido menorizado se tivesse havido "declaração de interesses") sem embargo de tal poder ou não, "a priori", ser factor de exclusão ou inclusão.
A própria Conferência Episcopal também parece ter usado de pouca prudência (por não saber ao que anda?) – recorde-se a resposta do Bispo D. Américo Aguiar, ligado à organização da próxima Jornada Mundial da Juventude, numa recente entrevista, a uma pergunta da jornalista que envolvia a Maçonaria, em que ele afirmou "não saber o que isso era"... Ou então a própria Conferência Episcopal, fê-lo deliberadamente para poder afirmar que não haveria comissão mais "independente". O que é no mínimo arriscado.

Tenente-Coronel Brandão Ferreira in «Ainda os "abusos" sexuais na Igreja», 23 de Fevereiro de 2023.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho muito respeito pelo Tenente-Coronel Brandão Ferreira e concordo com ele muitas vezes. Aqui, porém, não encontro nem argumentos sustentáveis, nem honestos, nem qualquer tipo de salvaguarda que possa abonar a favor da Igreja. Sou cristão. Não me revejo nesta Igreja.

Assinado: Nuno Jerónimo

VERITATIS disse...

Nuno Jerónimo,

Tenho pena que se tenha limitado a negar o que foi afirmado, sem ter apresentado nenhum argumento que justifique a razão por que acha honesto e em favor da Igreja um estudo não científico realizado por uma comissão não independente e respectivo procedimento público que se seguiu.

Não sei o que é isso de "esta Igreja". Afinal, quantas Igrejas Católicas Apostólicas Romanas há? Provavelmente deverá querer referir-se ao Clero actual (todo ou em parte).