Fundação do Hospital Real de todos os Santos


O sumptuosíssimo Hospital de Lisboa, com o nome de todos os Santos, foi invento da piedade d'El-Rei Dom João II. Havia naquela grande Cidade muitos Hospitais, em diferentes sítios e para enfermidades diferentes. Mas pela maior parte se desencaminhavam as rendas, por andarem por muitas mãos, e não era fácil meter a caminho tanto número de administradores, costumados a tratarem mais de si que da pobreza. Alcançou El-Rei Breve para reduzir a um só todos os outros, e lhe escolheu lugar junto à famosa Praça, chamada do Rossio, e neste dia [15 de Maio], ano de 1472, se lhe pôs a primeira pedra, e El-Rei de sua mão lançou muitas moedas de ouro e prata nos alicerces. Consta aquela insigne fábrica de um amplíssimo Templo com um pórtico para a Praça do Rossio, que é obra tão maravilhosa em si, quão pouco advertida dos que cada dia a estão vendo. Tem um adro de vinte e um degraus de mármore com três faces, também coisa singular e majestosa. Serve-se a Igreja com bom número de Capelães e moços do Coro, e nela se celebram os Ofícios Divinos com grande pompa e perfeição. O corpo do Hospital consta de enfermarias para todo o género de enfermidades, onde os pobres são assistidos com tudo quanto lhe é necessário para suas curas, sem reparo algum a trabalho ou dispêndio. Tem este Hospital hoje de renda em dinheiro e em frutos mais de cem mil cruzados.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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