A Ambição Luterana, com desejo de saquear a grande e muito opulenta Cidade da Baía, na América Portuguesa, saiu no ano de 1595 do porto da Rochela de França, com uma esquadra de doze naus bem guarnecidas de soldados hereges, mandadas pelo seu grande herege e Capitão General Pandemilho. Na costa de África roubaram de caminho uma povoação Portuguesa, que por ser pequena e desarmada, se lhe entregou a partido das vidas, o qual sendo-lhe prometido, lhe não foi guardado; porque degolaram a todos por serem poucos. Não satisfeitos com esta tirania e com a falta desta fé, passaram a ultrajar a do sagrado, profanando o Templo da mesma povoação. Dele levaram uma Imagem de Santo António, que conduziram à nau do General, para que na viagem, de espaço, e muito à sua vontade, a desprezassem e tiranizassem, como pessoa viva, como com efeito fizeram, lançando-lhe um cão ensinado a morder as Santas Imagens, dando-lhe cutiladas pela cabeça e mãos, pregando-lhe grossos pregos nas costas, pelas quais ataram a mesma Imagem com uma corda e a içavam ao alto, deixando-a cair na coberta, dizendo em grandes alaridos: Guia, guia, António para a Baía. Ouviu o Santo a súplica e guiou do modo seguinte. Em um instante, estalaram todos os arcos das pipas e se perdeu o vinho e água; corrompeu-se todo o biscoito e mais sustento que levavam. Caíram mortos, repentinamente, os soldados que o acutilaram, subverteu o mar onze naus com toda a sua gente, ficando só a de Pandemilho, em que ia a Imagem de Santo António e um pataxó, que levou a nova à Rochela, onde também foi morto o seu Capitão. O General, vendo-se sem sustento e com desejo de salvar a vida, chegou à Baía e se entregou ao Governador Dom Francisco de Sousa, lançando primeiro ao mar a dita Imagem, para que não constassem aos Portugueses as injúrias com que a tinham tratado. Não bastou porém esta cautela; porque a imagem, como se fora vidente, chegou sobre as águas à praia, e levantando-se em pé, esperou aos Luteranos, que por junto dela passaram presos com o seu General Pandemilho, o qual pondo os olhos no Santo, proferiu as palavras seguintes: Em efeito, António, hás tomado vingança de nós, trazendo-nos à Baía como te pedíamos? Pelo Santo respondeu a justiça mandando enforcar ao General e a todos os seus, e a Imagem foi levada com soleníssimo aparato à Igreja de São Francisco da mesma Cidade da Baía, onde foi colocada e é venerada com grande devoção e respeito.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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