Desejando El-Rei Dom Afonso Henriques que seu filho primogénito, o Infante Dom Sancho, não perdesse os brios na ociosidade da paz e se costumasse a pelejar e vencer, lhe mandou que fizesse uma entrada em terra de Mouros pela parte de Andaluzia. Saiu o Infante de Coimbra, e no meio da Ponte se despediu de El-Rei, seu pai, e lhe beijou a mão, com semblante tão alegre e com palavras tão cheias de espírito militar, que bem asseguravam a vitória antes da batalha. Passou à Província do Além-Tejo e dali entrou por Andaluzia, e chegou a avistar a famosa Cidade de Sevilha; O Rei que era daquela Cidade e o mais poderoso dos que então havia em Espanha, picado da resolução do Infante, lhe saiu com um Exército de mais de trinta mil combatentes; Constava o nosso de dois mil e trezentos de cavalo e quatro mil de pé, mas escolhidos e bem disciplinados e costumados a vencer. Atacou-se a batalha com grande valor de uma e outra parte, e sobre o esquadrão do Infante caiu tanto peso de inimigos, que se viu em perigo manifesto de perder a vida, ou a liberdade; Correram em sua defesa os principais senhores Portugueses, e à imitação do seu Príncipe, e por seu respeito, obraram estupendas proezas; Até que, lançado por terra o estandarte d'el-Rei de Sevilha e represadas muitas bandeiras dos Mouros, foram estes postos em fugida, com tanta mortandade, que por muitas horas correram envoltas em sangue bárbaro as águas do celebrado Bétis [Rio Guadalquivir]. Colheram os Portugueses riquíssimos despojos, e mais cheios ainda de fama que de riquezas, voltaram para o Reino a lograr os frutos e parabéns de tão insigne vitória, sucedida neste dia [5 de Novembro], ano de 1178.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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