Os três dias de trevas


As profecias continuam:
Por cúmulo de desgraças, o mundo será envolto em trevas de três dias contínuos, durante os quais nenhum meio de iluminação funcionará, a não ser velas bentas...
O que acontecerá nessa noite pavorosa é indiscritível! Muitos enlouquecerão, muitos suicidar-se-ão.
Os próprios demónios – afirmam as profecias – sairão do Inferno para matar ímpios.
A confusão será tal, que ninguém compreenderá mais nada.
À guerra exterior, feroz e destruidora, deve pois juntar-se uma calamidade, não menos horrível e destruidora – a de três dias de trevas, em seguida.
A História já regista um acontecimento deste género, porém de menor extensão e de duração mais limitada.
No dia 19 de Maio de 1870 teve lugar este estranho fenómeno, na América do Norte.
Uma testemunha desta época assim o descreveu:
«Pela manhã o sol surgiu radiante como sempre; porém, logo encobriu-se o seu disco.
As nuvens se condensaram; no seu bojo coriscavam os raios e ribombavam o trovão, caindo em seguida uma pequena chuva.
Pelas nove horas, as nuvens se adelgaçaram, assumindo um tom acobreado.
Na terra, nos montes, nas águas e nos homens, se reflectia uma luz estranha e extraterrestre. Passados alguns minutos, uma nuvem negra e pejada cobriu todo o firmamento, ficando apenas uma nesga mais clara no horizonte.
A escuridão era como costumava ser às nove horas da noite, nos dias estivais.
A extensão desta escuridão foi extraordinária. Alargou-se para o oriente, até Falmouth, e para ocidente, até aos territórios mais distantes de Albany.
Também a escuridão da noite não foi menos descumunal e lúgubre; embora se estivesse no plenilúnio, não era possível distinguirem-se quaisquer objectos, sem o auxílio artificial.
Depois da meia-noite, as trevas se desvaneceram, e a lua, ao aparecer, tinha aparência de sangue.»
Tal dia de trevas, já presenciado, durou apenas umas 10 horas, e não passou de um fenómeno meteorológico ou climatológico, que tem uma explicação natural no ciclo dos eclipses solares e lunares.
Os três dias de trevas preditos pelos videntes, podem ser um fenómeno natural do mesmo valor, embora mais demorado, mais extenso e mais horrível.
Há qualquer coisa de extraordinário, entretanto, que parece preternatural: é o facto de nenhum meio de iluminação funcionar, a não ser velas bentas.
Que nenhuma iluminação funcione, pode ser ainda um fenómeno natural, pois rarefazendo o oxigénio, a combustão torna-se impossível, e aumentando ou diminuindo a densidade eléctrica do ar, pode haver impossibilidade de iluminação artificial, proveniente da electricidade.
Se as velas bentas podem ser acesas e dar a sua luz, enquanto os outros meios de iluminação não funcionam, há aqui uma intervenção divina.

Mas há coisa mais horrenda nestas noites de trevas.
As profecias são a este respeito de uma lucidez macabra e de uma expressão pavorosa:
«Muitos maus enlouquecerão, muitos suicidar-se-ão, dizem os videntes. Os próprios demónios – afirmam várias profecias – sairão do Inferno para matar os ímpios. A confusão será tal que ninguém compreenderá mais nada.»
O facto das trevas pode ser classificado nos fenómenos de ordem meteorológica, não há dúvida; o enlouquecimento e os numerosos suicídios daqueles que não vivem mais conforme a fé e a razão, pode ser consequência do medo e do espanto que necessariamente há-de apoderar-se dos homens; mas quanto à aparição do demónio, este facto afasta-se das leis da natureza, e é nas ordens de Deus que devemos procurar a sua solução.
Deus permitirá, pois, que, nestes dias angustiosos, os demónios saiam do abismo e venham cá à terra, servir de instrumento justiceiro nas mãos do Omnipotente.
O demónio, que tanto odeia aos homens, que procura perdê-los por todos os meios, terá, durante estes dias, a licença de exercer o seu mal contido ódio, e de se entregar aos excessos das suas vinganças contra os homens.
Felizmente este ódio, como fazem notar as profecias, se exercerá, sobretudo, contra os maus, contra todos aqueles que vivem longe de Deus, da Sua Igreja, dos Sacramentos e dos Mandamentos divinos.
É nas fileiras dos maus, dos apóstatas, dos renegados, dos vendidos, dos gozadores, que o demónio fará a sua colheita lúgubre, purificando a terra e dando a todos uma lição tremenda da Justiça divina.
E quando é que tais trevas invadirão o mundo?
Nenhuma indicação precisa nos é dada pelos videntes.
Se certos acontecimentos indicadores nos foram dados nas profecias, parece entretanto, que nenhum dos profetas chegou a marcar o ano ou o mês da sua realização.
Uns sábios julgaram poder aplicar ao nosso tempo a horrenda catástrofe final...
Damos apenas estas indicações, sem entretanto afirmar o sentido profético de tal indicação, porque nos faltam documentos a esse respeito.
O facto há-de acontecer, dizem eles, quando, porém, se realizará tal profecia? Não nos é dado resolver o problema; entretanto, em vista de sua gravidade, é bom relembrar o conselho do Mestre: – Estai preparados!
Se o ano passar em paz e sossego, nada teremos perdido, tomando umas precauções previdentes; se acontecer deveras, tudo teremos ganho com estas precauções.

Pe. Júlio Maria de Lombaerde in «O Fim do Mundo está próximo?», 1936.

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