Pão por Deus


Na vila de Alpedriz, minha terra natal, é costume, assim como talvez em todo o nosso Reino, saírem os rapazes, pela festa de Todos os Santos, a pedir a oferta (chamada aqui pão por Deus) que os lavradores abastados costumam então fazer-lhes, de merendeiras, tremoços, maçãs, nozes, ou outra qualquer fruta, ou coisa semelhante, própria para contentar a rapaziada miúda. Até aqui não temos nada de singular em Alpedriz; mas em que a temos, e não pouco, é no modo porque os rapazes aqui formulam a sua petição, e na praga que dirigem aos lavradores que lhes recusam este mimo, a que se julgam com direito.

PETIÇÃO

Pão, pão por Deus
À mangaróla;
Encham-me o saco,
E vou-me embora.

PRAGA

O gorgulho, gorgulhóte
Lhe dê no pote,
E lhe não deixe farelo
Nem farelóte.

Teotónio José de Figueiredo Costa in «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1861», 1860.

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