Carta do Núncio Apostólico nos E.U.A., o Arcebispo Amleto Cicognani, ao enviado do Presidente Franklin Roosevelt, o Embaixador Myron Taylor – 22 de Junho de 1943:
Vossa Excelência,
Em referência à nossa conversa de há alguns dias, desejo apresentar para consideração e atenção de Vossa Excelência os seguintes pontos relativos à situação na Palestina.
A Santa Sé, apesar das graves dificuldades, tem manifestado constantemente um profundo interesse e preocupação pelos "não-arianos". Isto é claramente demonstrado pela recente acção tomada em favor dos jovens e crianças judias internados na Eslováquia, para impedir a sua remoção daquela República.
O auxílio da Santa Sé foi recentemente solicitado para ajudar a superar dificuldades, de modo a permitir que crianças judias sejam transportadas para a Palestina. O seu acolhimento, a partir de países europeus, foi autorizado pelo Governo Britânico.
Embora a Santa Sé esteja profundamente interessada no bem-estar dessas crianças, parece oportuno recordar, nesta altura, a questão geral do "Lar Hebreu" na Palestina. Desde 1917, quando a questão surgiu pela primeira vez, a Santa Sé tem manifestado a sua posição sobre o assunto e tem-na repetido em vários documentos formais.
Em 1919, Sua Santidade, o Papa Bento XV, ao discursar num Consistório de Cardeais, mencionou a grande solicitude que os Papas têm demonstrado pela preservação dos lugares santos e veneráveis da Palestina. Durante anos, sacrificaram-se para os manter longe das mãos dos infiéis. Agora que a sua posse foi assegurada, deve ser protegida e reforçada. Se o poder dos infiéis na Palestina aumentar, os monumentos estarão novamente em perigo. (A.A.S. Vol. XI, página 100).
A 13 de Junho de 1921, o mesmo Soberano Pontífice salientou que, embora não quisesse interferir em qualquer direito do povo Judeu, também não desejava prejudicar de nenhuma forma os direitos dos Cristãos na Palestina (A.A.S. Vol. XIII, página 283). A posição da Igreja foi expressa num aide-mémoire ao Conselho da Sociedade das Nações, a 4 de Junho de 1922. Junta-se a esta carta uma cópia desse documento, bem como uma cópia de uma carta do Cardeal Gasparri, datada de 6 de Março de 1922.
Nesta questão, há dois pontos a considerar. O primeiro diz respeito aos Lugares Santos (por exemplo, a Basílica do Santo Sepulcro, Belém, etc.). Os Católicos regozijam-se por deterem certos direitos sobre esses lugares, e, por justiça, tais direitos devem ser reconhecidos e respeitados. Garantias formais e reiteradas de que esses direitos serão respeitados, são sempre necessárias e voltarão a ser exigidas após a presente guerra.
O segundo ponto diz respeito à própria Palestina. Os Católicos do mundo inteiro nutrem uma profunda devoção por esta terra, santificada pela presença do Redentor e estimada como o berço do Cristianismo. Se a maior parte da Palestina fosse concedida ao povo Judeu, isso representaria um duro golpe para a ligação religiosa que os Católicos mantêm com esta terra. Ter o povo Judeu em maioria, seria uma interferência no exercício pacífico dos direitos que os Católicos já possuem na Terra Santa.
É verdade que, em tempos, a Palestina foi habitada pela raça Hebraica, mas não há nenhum princípio histórico que justifique a necessidade de um povo regressar a uma terra que deixou há dezanove séculos.
Se se deseja um "Lar Hebreu", não seria difícil encontrar um território mais adequado do que a Palestina. Com o aumento da população Judaica na região, surgiriam novos e graves problemas internacionais. Os Católicos do mundo inteiro ficariam indignados. A Santa Sé ficaria triste – e com razão – com tal movimento, pois não estaria de acordo com a assistência caritativa que os não-arianos têm recebido e continuarão a receber das mãos do Vaticano.
Estou confiante de que, a partir destes pontos, Vossa Excelência compreenderá a posição da Santa Sé nesta matéria.
Com sentimentos de estima e votos de felicidades, subscrevo-me,
Atenciosamente,
A. G. Cicognani
Arcebispo de Laodicea
Núncio Apostólico nos E.U.A.
Sem comentários:
Enviar um comentário