Defende-se a Cidade de Colombo de um grande assalto


Desde cinco deste mês até este dia em que estamos [20 de Agosto], do ano de 1587, foi prosseguindo o tirano Rajú furiosos assaltos contra a Fortaleza e Cidade de Colombo [no Ceilão]; E (deixando outros, que pela semelhança causaria fastio o repeti-los) neste dia sobre a tarde, mandou despregar duas bandeiras, uma branca e outra vermelha, e logo começaram a soar os tristes instrumentos de que usam os Gentios da Índia, nas ocasiões em que se fazem Amoucos, isto é, oferecidos a morrer ou vencer; E com grandes alaridos e brados (a que eles chamam cuquiadas) acometeram a Cidade, arrimando-lhe grande número de escadas por muitas partes, e pela do mar veio com o mesmo intento uma armada inimiga; Grande foi a consternação em que se viram os poucos Portugueses que havia na Cidade! Grande a fúria e resolução com que foram acometidos! Mas ainda foi maior o seu esforço; Assim rebateram a porfia dos Infiéis: Assim lhe quebraram os primeiros ímpetos, que finalmente se começaram a retirar com mais confusão, do que haviam trazido arrogância. Ficou o campo ao pé das muralhas juncado de corpos mortos e despedaçados, que formavam uma horrível representação: A armada se retirou também diminuída de velas e de soldados; Assistiram alguns Religiosos de São Francisco, que havia na Cidade, aos maiores perigos com admirável constância, acudindo a todas as partes com os remédios do corpo e do espírito.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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