Saber perdoar e saber castigar


Um Rei deve ser clemente, e já dizia um Filósofo antigo (Séneca), que era tão indecoroso a um Rei o perdoar a todos como o castigar a todos; há porém muitos lances em que uma desmesurada clemência é um crime de que o Rei dos Reis lhe tomará uma estreitíssima conta.
Confundir os bons com os maus, é animar a impunidade, e com ela todos os crimes, poupar cegamente os criminosos é sacrificar os bons, é perturbá-los na fruição dos seus direitos, é pô-los em uma perpétua desconfiança de serem outra vez enxovalhados e perseguidos: o que é tão certo que nestes casos importa mais ao cidadão probo e leal, esconder-se, ou antes mudar de pátria, do que viver no meio de tigres que por ventura açaimados um só instante pelo irresistível poderio da opinião pública, já estudam e se afanam por desfazer com seus próprios dentes a mordaça que os refreia, e que apenas conseguirem tirá-la encherão tudo de estragos, de mortes, e de sangue...

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Punhal dos Corcundas», Nº1, 1823.

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