Estalinismo: bode expiatório do Comunismo


Alguns especialistas recorrem a este processo a fim de demonstrarem que o comunismo é apenas possível nos países cuja história tenha sido «viciada»; e outros para tirar as culpas ao comunismo e imputarem os erros da sua instauração às características peculiares da nação russa. Encontramos esta concepção numa série recente de artigos dedicados ao centenário de Estaline (em especial do Prof. Robert Tucker no New York Times de 21 de Dezembro de 1979).
Sucinto, mas enérgico, o artigo de Tucker causa espanto: não teria sido escrito há vinte e cinco anos? Como é que um especialista em ciências políticas ainda pode, actualmente, ter ideias tão erradas sobre o fenómeno comunista? Nele voltamos a encontrar os infalíveis «ideais revolucionários», que o infame Estaline teria arruinado, visto não ter ido beber a sua ciência a Marx, mas sim à infame história russa. O Prof. Tucker apressa-se a salvar o crédito do socialismo ao declarar que Estaline nunca foi um verdadeiro socialista! A sua acção não foi inspirada pela teoria de Marx, mas pelo exemplo dos eternos Ivã, o Terrível, e Pedro, o Grande. Toda a época estalinista não passaria do regresso radical ao tempo dos czares e não seria a aplicação metódica do marxismo às realidades do mundo contemporâneo. Estaline teria arruinado o bolchevismo (em vez de o ter perpetuado). A minha modéstia não me permite pedir, nem esperar, que o Prof. Tucker leia, pelo menos, o primeiro volume d'O Arquipélago de Gulag (de facto, seria preferível que ele lesse os três). A sua leitura refrescar-lhe-ia a memória: lembrar-se-ia de que o aparelho policial comunista, que viria a fazer sessenta milhões de vítimas, foi criado por Lenine, Trotsky e Dzerjinski. A Tcheca, sua primeira manifestação, tinha poderes ilimitados para, sem instauração de processo, fuzilar grande número de pessoas. Foi Lenine quem, com o seu próprio punho, redigiu o artigo 58 do Código Penal, fundamento de todo o Gulag estalinista. Todo o terror vermelho e a repressão de milhões de camponeses foram obra de Lenine e de Trotsky. Foram as suas instruções que Estaline aplicou escrupulosamente, se bem que estupidamente, à medida da sua capacidade intelectual. Apenas num ponto se afastou de Lenine: foi quando, a fim de reforçar o seu poder, decidiu eliminar os dirigentes do Partido Comunista. Mas também nesse ponto ele se contentou em seguir a lei de todas as revoluções sangrentas: elas acabam, infalivelmente, por devorar os seus próprios autores. Na U.R.S.S. dizia-se com razão: «Estaline é o Lenine de hoje». É verdade: toda a época estalinista é apenas a continuação directa do leninismo, mas com mais maturidade nos resultados e um desenvolvimento mais vasto e mais igual. O estalinismo nunca existiu, nem na teoria, nem na prática: não se pode falar nem de fenómeno estalinista, nem de época estalinista; estes conceitos foram inventados pela ideologia ocidental de esquerda, após 1956, apenas para defender os ideais comunistas. Nem um fantasma perverso conseguiria fazer de Estaline um nacionalista russo, muito embora tenha liquidado quinze milhões de camponeses, e dos melhores, quebrando a espinha ao campesinato russo, isto é, à própria Rússia, sacrificando mais de trinta milhões de homens durante a segunda guerra mundial em que participou, sem se preocupar minimamente em economizar o potencial humano e sem a mais pequena consideração pelo seu povo.

Alexandre Soljenitsin in «O Erro do Ocidente», 1980.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lenine, Trotsky, Dzerjinski, Estaline; e mais outros e outros tantos comunistas e integrantes bolcheviques.
Todos judeus!
Pssss...! Mas não deixe os sionistas saberem.

Campanhol

VERITATIS disse...

Dzerjinski e Estaline não eram judeus, embora o primeiro governo soviético fosse composto por 80-85% de judeus, conforme reconheceu Vladimir Putin em 2013.