O bom português deve cultivar em si o patriota, que abrange
o indivíduo, o pai e o munícipe e os excede, criando um novo ser
espiritual mais complexo, caracterizado por uma profunda lembrança étnica e
histórica e um profundo desejo concordante, que é a repercussão sublimada no
Futuro da voz secular daquela herança ou lembrança...
É já grande o homem que subordina à Pátria, sem os destruir,
os seus interesses individuais, familiares e municipais.
Por isso, o viver como patriota não é fácil, principalmente
num meio em que as almas, incolores, duvidosas da sua existência, materializadas,
não atingem a vida da Pátria, rastejando cá em baixo, entretido em mesquinhas
questões individuais e partidárias. Mas para Portugal continuar a ser,
precisamos de elevar até ele a nossa pessoa e conhecê-lo na sua lembrança e na
sua esperança, na sua alma, enfim.
Não podemos amar o que ignoramos.
Impõe-se, portanto, o conhecimento da alma pátria, nos seus
caracteres essenciais. Por ela, devemos moldar a nossa própria, dando-lhe actividade
moral e força representativa, o que será de grande alcance para a obra que
empreenderemos, como patriotas, no campo social e político.
O político estranho à sua Raça não saberá orientar nem
satisfazer as aspirações nacionais. É preciso que ele encarne o sonho popular e
lhe dê concreta realidade. Do contrário, fará obra artificial, transitória e
nociva, por contrariar e mesmo comprometer o destino superior de uma Pátria.
Sim: o bom português necessita de conhecer e comungar a alma
pátria, a fim de se guiar por ela, no seu labor. Depois legislará, reformará ou
criará literária e artisticamente uma obra duradoura e útil.
Teixeira
de Pascoaes in «Arte de Ser Português».
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