O triunfo do Materialismo


No fim do reinado de D. Maria I surgiu a Economia Política de Adam Smith baseada nas leis naturais de oferta e procura, portanto aparentemente humanitária, mas no fundo favorecendo as nações detentoras dos melhores meios de produção industrial. O facto é eloquentíssimo, pois marca a translação do sentido espiritualista da Economia baseada no livre arbítrio dos dirigentes perante Deus pelo bem-estar do povo, para o sentido materialista baseado no determinismo dos fenómenos da produção e do consumo, sem nenhuma consideração pelas consequências do desequilíbrio social e internacional.
Essa doutrina enriqueceu as classes burguesas e os países de concentração industrial e reactivou as ideias revolucionárias, agora também baseadas nas leis da evolução consoante ensinaram Sorel e Marx; por outro lado, favorecendo os grupos étnicos que assentaram a prosperidade nos recursos siderúrgicos, suscitou a teoria da superioridade racial dos menos pigmentados.
Coincidindo ter sido entre estes que se originaram a reforma religiosa, o naturalismo filosófico, o experimentalismo, o criticismo, o positivismo, o agnosticismo e finalmente, o pragmatismo, concluiu-se que um dos índices da inferioridade rácica repontava nos caracteres místicos e principalmente católicos, logo designados pelos escritores do nosso próprio grémio, com os epítetos de «fanatismo supersticioso», «vícios educacionais», «obscurantismo fradesco», «ultramontanismo clerical».
Nunca tínhamos reparado que essa propaganda visava arrebatar-nos a defesa contra o predomínio imperialista e a absorção económica por parte de povos mais aquinhoados de instrumentos geológicos de produção, os quais necessitavam explicar a desigualdade das nações pelo determinismo da selecção dos mais aptos.
Foi a obra nefasta que inoculou em nações, cheias de força intelectual e moral, o veneno do desânimo, o vírus do fatalismo e a convicção de que nada mais podiam aspirar no desempenho de nobres missões no mundo.
Denegriu-se a memória dos reis; inventaram-se lendas contra os jesuítas e a opressão dos padres, enquanto, incoerentemente, se erguiam glorificações ao precursor e mestre dos ditadores do nosso tempo... Acusava-se a Igreja de inimiga da ciência e entoavam-se loas a Voltaire, esquecendo-se os turiferários de que este ridicularizara, por exemplo, as primeiras revelações da paleontologia metendo à bulha os sábios do seu tempo. Clamava-se que a Inquisição queimara cientistas na fogueira (o que não é verdade) mas a morte de Lavoisier, fundador da química, levado à guilhotina pelos ateus da Revolução Francesa, não merecia o menor comentário.
Assim procedendo, enfraquecíamos as raízes das nossas Pátrias, dando curso ao materialismo dentro de cujas ideias se justificavam as nossas escravizações nacionais aos povos que Frederico Nietzsche denomina orgulhosamente «povos hiperbóreos».

Plínio Salgado in «O Rei dos Reis e Mensagens ao Mundo Lusíada».

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante. Desconhecia por completo.

VERITATIS disse...

Vale a pena conhecer Plínio Salgado. Plínio Salgado era um nacionalista brasileiro e grande defensor da latinidade por oposição ao nordicíssimo. Criticava sobretudo as teorias antropológicas surgidas no século XIX que colocavam o Homem Nórdico como o expoente máximo da Humanidade. E contrapunha, afirmando que a recente "superioridade" dos nórdicos é devida a uma série de factores mais geográficos do que propriamente rácicos. Pois com a Revolução Industrial, era perfeitamente natural que países mais ricos em matérias-primas como carvão e ferro se desenvolvessem mais. Ou tal como o próprio autor afirma: «Termina o ciclo do ouro para iniciar-se o ciclo do ferro. Estabelece-se a inevitável fatalidade económica: as nações que tiveram ferro terão ouro. E a recíproca: as que tiveram ouro, não tendo ferro, perderão o ouro através das transacções comerciais para as que tiverem ferro. O ferro é a máquina, é a indústria, é o transporte e, sobretudo, é o navio». E conclui: «A confusão lançada nas inteligências pelos teóricos ao serviço das nações hulheiras criou nos povos desprovidos de possibilidades siderúrgicas um complexo de inferioridade tão deprimente que a si próprios se passam certidão de invalidez e de óbito moral. Esse estado de espírito levou seus intelectuais a pesquisar as causas da decadência nacional e, de tudo cogitando, menos da causa verdadeira, não faltaram os que responsabilizassem o obscurantismo dos reis, a opressão do clero, as peias dos costumes católicos pelo atraso e pobreza das nações. A História Portuguesa, assim como a Brasileira, foi falseada, desde o reinado de D. João V, até os nossos dias».

VERITATIS disse...

Errata: onde se lê nordicíssimo, leia-se nordicismo.

Um Dissidente disse...

Plínio Salgado foi um homem de grande sabedoria. Esse texto está excelente.

E sobre a doutrina do Smith, eu a acho que foi um tanto quanto deturpada, levada até as últimas consequências levianamente. Não faz muito tempo a própria ciência já teve um adendo, um complemento a teoria do Smith, através do Equilíbrio de Nash. O curioso é que não vemos o mesmo afã em divulgar tal trabalho, que alude um campo até mesmo humanitário e que respeita um interesse de grupo, assim como vemos com o trabalho do Smith. Só me resta pensar que estão todos é muito mal intencionados mesmo.