Os falsos tradicionalistas monárquicos, portadores de uma tradição que só existe nas suas próprias mentes, costumam apresentar uma bandeira bipartida de azul e vermelho, como sendo o estandarte militar de Dom Miguel. Contudo, tal bandeira nunca existiu. O que não deixa de ser irónico: os que apresentam uma falsa monarquia tradicional, são os mesmos que apresentam uma falsa bandeira miguelista... Mas, então, como seria a bandeira de guerra usada por Dom Miguel? As fontes da época mostram-nos que as bandeiras militares da Casa Real seriam partidas, não em duas, mas em várias partes de azul e vermelho, como mostram as imagens seguintes:
A primeira imagem é de um estandarte militar do período das Invasões Francesas (Rainha D. Maria) e a segunda é de um estandarte militar do período da Guerra Civil (Rei D. Miguel). Fica assim a devida correcção histórica, à qual junto um novo aviso aos leitores do blogue, para que não se deixem enganar por falsos tradicionalismos monárquicos, de falsas éticas e falsas estéticas. A Monarquia Portuguesa – de São Mamede a Évora Monte – foi só uma, e nunca conheceu doutrinas como as defendidas por tais monárquicos!
4 comentários:
Muito boa noite,
E a bandeira de fundo branco com o escudo, usada desde a Restauração até (pelo menos) ao reinado de D. Maria I, continuou a ser a bandeira nacional durante o reinado de D. Miguel?
Obrigado pela atenção!
Sim, a bandeira de fundo branco não terminou no reinado de D. Maria, mas continuou no reinado de D. João VI e D. Miguel. O azul e branco foi introduzido e oficializado pelos liberais após a Capitulação de Évora Monte.
Procurando saber a História dos símbolos portugueses, e ciente das variações que estes sofreram ao longo de séculos, bem como a relatividade dos símbolos conforme as percepções da época (por exemplo, o "Olho da Providência", a "Cruz de São Pedro", etc...), em verdade confesso uma indiscutível afeição às cores Azul e Branca. A conjugação de cores, indubitavelmente feliz, remete de tal modo às cores simbólicas da Imaculada Conceição, Rainha de Portugal, que os republicanos se rebelaram contra elas.
Sabendo o antagonismo que esta posição suscita em correligionários, houve de saber a sua razão, mais que a sua relação politica.
De facto, as cores reais, pelo menos, desde D. João I, parecem ser o azul e o vermelho, porém com alterações na dinastia de Bragança. E a primeira bandeira, aparecerá no século XV, com D. João II, ou D. Manuel; e assim, em mais de 300 anos a bandeira mantem-se cromaticamente inalterada, apesar de alterações estéticas no Escudo, até à bandeira do Reino Unido, que alterou, de facto, a bandeira a ser usada em todo o território português, com a introdução da "bandeira do reino do Brasil": a esfera armilar e o fundo azul.
Do que me foi possível apurar, além da evidente continuidade das cores azul e branca nas Quinas, desde a Fundação, a cor azul parece insinuar-se no estandarte de D. João IV (Imaculada Conceição), e na bandeira do reino com D. João VI (Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves). Porém, e à parte estas alterações, o branco sempre foi dominante, assim como o foi em quase todos os reinos da Europa, presumivelmente, por razões económicas. Assim, a Espanha terá sido um dos primeiros reinos a introduzir cores na bandeira (predominantemente branca) para melhor se distinguirem os contendentes numa situação de conflito (nomeadamente, naval). E não duvido que, a seu tempo, o mesmo sucederia em Portugal, cuidando que aqui, se imita tudo quanto se faz lá fora.
Procurando saber a origem da "bandeira liberal", ou melhor dizendo, empregue pelos liberais, desde 1830, após adopção, na Ilha Terceira, por D. Pedro, o traidor; houve de recuar a 1820, e às Cortes liberais. Segundo me foi possível apurar, houve a iniciativa de criar uma distinção entre as cores reais (vermelho e azul) e umas "cores nacionais", no caso, a serem empregues no "Laço Nacional". E à proposta de um tal maçom, Manuel Gonçalves de Miranda, que propôs as cores verde a amarelo para o laço nacional português, um deputado, Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato, propôs o azul e branco por representarem as cores de D. Afonso Henriques e serem as cores permanentes na História de Portugal. Sem dúvida foram cores adoptadas por liberais, numa assembleia liberal, e num contexto liberal, mas escolha feliz.
Mas estou convencido que D. Pedro, o traidor, ignorasse a razão das mesmas (não creio que tivera acesso às actas da discussão); e, só as tendo adoptado para a bandeira, por haverem sido propostas pelas ditas Cortes de 1820, porque liberais, mas ignorando qualquer significado intrínseco.
Continuação:
De qualquer modo, não ignorando a importância do significado dos símbolos, parece-me existir um excesso de zelo (irracionalmente emotivo), em certos momentos, e não tanto noutros: como o uso da bandeira histórica branca, mas empregando o Escudo em formato português, quando o Escudo usado em Portugal, desde D. João V, era o Escudo em formato francês (pelo menos na bandeira). Ou mesmo o uso, por forças de D. Miguel, da bandeira do Reino Unido. Certa dificuldade na execução de bandeiras, impelia a que se usassem as insígnias existentes, ou seja, e no caso, de D. Maria I e D. João VI.
De qualquer modo, os símbolos têm diversas formas de interpretação: o azul é a cruz sob a qual se fundou a nacionalidade; é a coroação de Nossa Senhora da Conceição como Rainha de Portugal; e do Brasil no Reino Unido; e a perpétua cor de Portugal, razão da sua escolha em 1820. E cuidando que D. Duarte, herdeiro dos direitos de D. Miguel, aceitou a bicolor, parece-me que, a legitimidade do uso do azul na bandeira se encontra parcialmente resolvido. (ainda que D. Duarte me mereça menos consideração, que a esperança que lhe tenho nos descendentes, apesar dos dúbios ascendentes da mãe e avó paterna. Porém, em caso de Restauração, parece ser a estes que estamos subordinados, e desse modo a questão da bandeira, para já, está resolvida).
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