Não se trata de defender uma atitude de pura destruição, nem de anarquismo, nem de futurismo desgarrado, nem de progressismo utópico ou que vai sumir-se no ventre da esquerda, nem de revolução total e cega. Existem valores permanentes, realidades a conservar, naturezas a assumir, existem coisas que se transmitem, com justiça, através dos tempos e no concreto.
O que eu combato é a posição de rotina e o materialismo prático. (...)
Dizem que o conservador pertence às direitas. Talvez, mas então será a sua degradação e caricatura, a sua doença e o criminoso da família. Porque nem toda a direita é aquilo. (...)
A direita conservadora quer a tranquilidade e a segurança – e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos. Tem um arrepio e lança uns protestos indignados, quando conspurcam as glórias pátrias, atacam a nossa herança ultramarina, fazem a demolição ciclónica da religião, ameaçam frontalmente dissolver a família, ou clamorosamente, em regabofe, praticam e trombeteiam o amor livre. Mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios – com boas maneiras, sim! –, já o caso muda de figura. A direita conservadora fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por ser habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!
A direita conservadora é moderada. Claro que existem coisas más, feias, indignantes. Mas não é preciso reagir de dentuça arreganhada, ao tabefe e com pulso de ferro, ou de arma aperrada e fulgurante. Claro que o espírito e o ideal são precisos e bons; mas não exageremos, nem vamos perder o sossego e o bem-estar, em aventuras, perigos e aflições, por causa das ideias, de espiritualismos e quejandos enxoframentos de adolescente cabeça ardorosa.
A direita conservadora não quer pensar muito; nem sentir muito. Disso, um condimentozinho apenas; q.b. Livra!, que doses altas podem tirar o sono ou dificultar a digestão! Portanto, adoram um governante que pense por ela, como ela sensatamente, tolerante, de fino trato, prático, livre da terrível praga da ideologia; e que sinta? Também sim, que sinta que ela, direita conservadora, não quer sobressaltos e que não se importa de deslizar para qualquer banda, no caso de ser sem prejuízos materiais e sem violências. A direita conservadora é centrista e, assim, voga, beatamente, se preciso, segundo os ventos da História – mas sem o dizer.
A direita conservadora é um molusco. E no entanto, resulta num penhasco gigantesco e obstrutor para o movimento (...) de Justiça e Ideal.
Goulart Nogueira in «Política», n.º 19, 30 de Setembro de 1970.
4 comentários:
Um excelente texto a roçar a perfeição.
A Direita conservadora é isso tudo que diz o Goulart Nogueira.
Se me é permitido numa linguagem futebolística diria que a direita conservadora joga sempre para o empate e nunca para a vitória.
E por isso perde sempre.
Vai somando derrotas atrás de derrotas.
Hoje em dia a direita conservadora já é conservadora dos valores de esquerda/liberais, pois já não há outros a defender, já não existem porque ela nunca lutou por nada.
A direita conservadora de hoje é a esquerda de há 20 anos.
Não há dúvida que a direita de hoje é a esquerda de ontem. Basta pensar que figuras como Adriano Moreira ou Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje são apresentados como representantes da direita, eram vistos como esquerdistas no fim no Estado Novo.
Outro exemplo que eu conheço de perto são os monárquicos. Hoje há por aí indivíduos que se intitulam monárquicos tradicionalistas, mas cujas ideias seriam vistas como liberais no tempo de D. Miguel.
Enfim, é o que dá guiarem-se por circunstâncias em vez de se guiarem por princípios. "Os tempos hoje são outros", "temos que nos adaptar", "o mundo evoluiu", etc. E depois são engolidos pela esquerda.
a direita conservadora, como dizia o grande William Pierce, caracteriza-se sobretudo por nunca ter uma posição mesmo sua, por nunca ter uma agenda e uma ideologia sua.
o conservadorismo baseia-se simplesmente numa mera atitude defensiva.
a esquerda e os liberais dizem x, os conservadores têm que dizer o contrário.
a esquerda e os liberais fazem x, os conservadores têm que fazer o seu contrário e assim sucessivamente.
se a esquerda se apresenta contra israel, os conservadores obviamente que têm que ser a favor de israel e assim sucessivamente.
se a esquerda diz obviedades sobre a corrupção ou o capitalismo, obviamente que os conservadores têm que defender isso tudo, incluindo a corrupção ou exploração.
nunca têm posição mesmo deles. estão apenas e só na defensiva ou no 'contra'.
e por causa disso, é claro que perdem sempre, pois quem está sempre na defensiva, na resistência e nunca ataca nem cria nada, vai cedendo aos poucos e poucos.
O conservadorismo não é uma ideia, é uma atitude. É uma cristalização no tempo, e essa cristalização comporta tanto os erros como as virtudes. No fundo os conservadores são os defensores do status quo, do que simplesmente existe! Por isso o conservador é passivo, limitando-se a negar, nunca a afirmar. Vou a casos concretos: Os conservadores em Portugal têm perdido todas as batalhas contra o aborto ou os "casamentos gay". Porque precisamente a sua atitude é meramente passiva, usando sempre argumentos de circunstância como as "dificuldades criadas", nunca afirmando princípios morais e naturais. Exemplo: O vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa na campanha contra o aborto em 2007, no qual o mesmo dizia que o aborto devia ser proibido mas que ninguém podia ser preso por fazê-lo.
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